Márcio Passos
28 de Junho de 2019Não se deixe enganar
Lendo o excelente texto de Gustavo Domingues publicado nesta página na edição passada, me perguntei quantos pré-candidatos a prefeito de João Monlevade estariam participando dos trabalhos da CP10, mais recente proposta de câmaras multi representativas debatendo assuntos de real interesse para a comunidade. Nenhum, absolutamente nenhum, pelo menos declarado.
Este talvez seja o maior problema político de João Monlevade dos últimos tempos. Quem se arrisca a entrar na disputa, seja para o Executivo e até menos para o Legislativo, não demonstra nenhuma aptidão e nem mesmo interesse para discutir propostas para os problemas do município. Se preparam, quando muito, para uma saraivada de promessas que acabam se revelando em estelionato eleitoral e, pior do que isso, preferem gastar tempo e energia para atacar e falar mal dos adversários.
Encherá os dedos das duas mãos a quantidade de gente querendo governar a cidade a partir de janeiro de 2021. Independentemente do nível de capacidade de cada um ou até mesmo da falta dela, todos se igualam no prazer desmesurado e irresponsável de só atacar a todos que possam se efetivar como concorrente, desde a prefeita até o Zé da Couves que não passa de candidato dele mesmo.
A experiência de campanhas eleitorais nos ensina que o eleitor gosta muito de falar mal de políticos, mas não gosta de ouvir político falando mal de político. Esta indisposição aumentou muito nas eleições recentes, quando o balaio de gatos cresceu e a grande maioria vem se igualando na mesmice e na descrença dos eleitores, verdadeiros donos dos votos. Na contramão do que recomendam as últimas lições, muito pré-candidato ainda pensa que campanha eleitoral é para fazer política e acaba dando com os burros nágua, porque ela serve apenas para o pedido de voto daqueles que já fizeram política a vida toda.
João Monlevade, como todos os municípios, tem uma série de problemas para os quais a população cobra propostas há décadas, tanto na saúde, na educação, segurança, melhoria dos equipamentos públicos, otimização na oferta dos serviços, entre outros, mas que precisam ser tratados amplamente e permanentemente com as mais variadas representações da comunidade.
A politicagem do festival de ofertas populistas e demagogas que sempre enganou os eleitores precisa abrir espaço para o reconhecimento da dificuldade financeira da gestão pública onde não cabe mais o vale tudo. É necessário primeiro comprovar capacidade de gestão, disposição para o amplo diálogo, espírito democrático para conviver e respeitar as diferenças, compromisso inegociável com o interesse coletivo e a humildade para reconhecer que o cargo é eventual e passageiro.
Não se deixe enganar por quem vem atirando contra tudo e contra todos, sem propostas responsáveis e cheios de promessas demagogas. Muito cuidado porque a próxima vítima será você. João Monlevade precisa fugir desta briga pobre e burra de tucanos contra petistas. Já estamos há décadas nesta guerra de egos mal polidos, cujo preço o município vem pagando caro apesar do seu imposto mais importante ter crescido mais de 50% na última década. E, apesar disso, o município estagnou.
() MÁRCIO PASSOS é jornalista e fundador do A Notícia