Márcio Passos
26 de Julho de 2019Vale que leva Minas
Há vinte e seis anos abnegados cidadãos visionários criaram o projeto Itabira 2025, acreditando ser aquele ano o marco do encerramento das atividades da Vale no município.
De lá pra cá muito pouco foi feito em nome da diversificação econômica local, com merecido destaque apenas para o campus da Unifei (Universidade Federal de Itajubá), mesmo assim cumprido pela metade por falta dos investimentos acertados, inclusive pela Vale.
Agora, um quarto de século depois, para o mercado internacional e investidores a Vale escreve e assina que encerra suas atividades de extração mineral nas minas de Itabira no ano de 2028.
Para os representantes do município, no entanto, ela afirma em reuniões fechadas e com limitada representatividade das partes, que a história não é bem assim e que a empresa pode operar no município ainda por meio século.
Só os excessivamente passivos acreditam nesta versão de gabinete. Aqueles que estão a fim de arregaçar as mangas e trabalhar na busca do tempo perdido devem usar da sabedoria que lhes restam para entender que o recado que merece credibilidade é aquele que foi dado ao mercado internacional e aos investidores.
Este é um problema de estrema gravidade e não está afeto apenas a um ou outro eventual ocupante de cargo público e nem mesmo apenas a Itabira. É uma questão que envolve toda Minas Gerais e que exige, sem oportunismo de campanha eleitoral, a união do Estado, da Assembleia, da Amig (Associação dos Municípios Mineradores de Minas Gerais), da Amepi e demais associações de municípios de influência da área mineral, dos municípios mineradores e, em especial, Itabira, São Gonçalo, Santa Bárbara, Barão de Cocais, Bela Vista, Catas Altas e Mariana, entre outros.
O que a Vale vai fazer ou deixar de fazer espontaneamente ou judicialmente ao se despedir de Itabira, será regra a partir de agora para todos os municípios mineradores e suas malditas heranças ambientais e sociais.
Não entendo como ainda ninguém procurou o então procurador jurídico da Prefeitura de Itabira na época do Governo Li (Dr. Mauro Márcio Alvarenga) em busca de completas informações sobre a ação do município contra a Vale, em valor que já supera os R$10 bilhões e que a própria Vale destaca em seu relatório internacional. E também não entendo porque nenhuma autoridade municipal demonstrou interesse pelo excelente trabalho de pesquisa sobre a história Vale/Itabira, iniciado pelo competente jornalista José de Almeida Sana. Aqui podem estar informações importantes para o ponto de partida em defesa dos interesses dos municípios mineradores e sua gente.
É mais do que passada a hora de muita gente trocar o papel de cordeiro pelo de onça. O futuro cobrará muito caro de quem se omitir.
Acorda, Itabira Acorda, Minas
() Márcio Passos é jornalista e fundador do A Notícia