Thiago Silva
31 de Janeiro de 20202020: ano difícil para as universidades públicas
A semana de divulgação do resultado do Sisu - Sistema de Seleção Unificado, é um ótimo momento para falarmos da importância da universidade pública para o desenvolvimento local e nacional e alertar a população para as dificuldades que enfrentamos.
João Monlevade possui campus de duas universidades públicas e a presença dessas instituições na cidade amplia a oportunidade que os estudantes monlevadenses possuem de acessar o ensino superior gratuito e de qualidade. Ressalta-se ainda que a vinda de estudantes de outras cidades injeta dinheiro diretamente na economia local e que a formação local destes jovens profissionais favorece a melhoria da produtividade das empresas atuantes no município.
Para o primeiro semestre de 2020, a Ufop em João Monlevade, por meio do Sisu, espera receber matrículas de 160 novos estudantes para os cursos de Engenharia da Computação, Engenharia Elétrica, Engenharia de Produção e Sistemas de Informação. Além da Ufop, a Uemg oferece outras 160 vagas para os cursos de Engenharia Ambiental, Engenharia Civil, Engenharia Metalúrgica e Engenharia de Minas.
Criado em 2010, o Sistema de Seleção Unificado foi uma revolução para o acesso às instituições públicas de ensino superior. No ano de 2020, o sistema recebeu 1.795.211 inscritos para 237.138 vagas de 128 instituições. A novidade deste ano é que, infelizmente, além da concorrência, os candidatos lidam com a incerteza da validade do resultado divulgado devido a erros na correção das provas do Enem e conseguinte judicialização do processo.
Os números grandiosos do Sisu e a extensa cobertura midiática em torno do processo de seleção é um sinal da importância da universidade na vida dos brasileiros. No entanto, para quem vive o dia a dia destas instituições, os problemas de correção das provas do Enem se tornam pequenos frente aos inúmeros desafios que as universidades públicas brasileiras enfrentarão em 2020. Até o presente momento, a informação disponível é que as universidades federais deverão contar com um orçamento 40% menor que o já insuficiente orçamento dos anos anteriores. O corte de verbas em agências de fomento como Fapemig, Capes e Cnpq tem comprometido seriamente a execução de projetos de pesquisa no país.
Sabendo que as universidades públicas são responsáveis por 95% da pesquisa científica nacional, o desmonte destas instituições trará sérias consequências para a competitividade da indústria brasileira ao deixar de se investir em pesquisa cientifica em áreas estratégicas e de tendência mundial.
A universidade pública é um patrimônio do povo brasileiro. É necessário que a população escute os constantes gritos de socorro destas instituições e se engaje na luta pela manutenção e desenvolvimento de uma universidade pública, gratuita, de qualidade e para todos.
() Thiago Silva é doutor em Engenharia de Produção
e atual diretor do Instituto de Ciências Exatas e Aplicadas – Icea/Ufop