Márcio Passos
07 de Fevereiro de 2020Política de torcida
A não ser em algumas não poucas vezes que a idade ainda me permitia ou me induzia, prefiro equilibrar meus textos pela convicção de que por muita concordância que eu encontre pela frente, jamais poderei me achar dono da razão ou da verdade. Hoje, na realidade, até me envergonho de querer ser dono delas, porque acredito que a vida, mesmo que tardia, já me ensinou que querer sê-lo é uma grande bobagem.
Escrevo sempre que posso nas redes sociais e na página dois do jornal A Notícia e acho absolutamente normal as pessoas discordarem de mim. Até gosto, porque na maioria delas aprendo muito. Só não aceito e não pratico agressões pessoais. Isso é opção para quem é limitado no respeito, desprovido de ideias e do prazer pela troca de pensamentos e visões sobre o dia a dia da vida com suas lições.
Dificilmente, alguém me vê comentar sobre futebol e deixo de fazê-lo porque entendo qualquer esporte como forma de crescimento humano, seja na prática como na torcida. Se para torcer para um time de futebol me for exigido desrespeitar os adversários, muitas vezes com brincadeiras imaturas e que nada mais revelam que preconceitos, prefiro ser um torcedor solitário e calado. A disputa e o gosto diferenciado por equipes de futebol não podem e não nos dão o direito de transformar uma atividade esportiva em provocações agressivas e desrespeitosas.
O mesmo se aplica em nossa postura política diante dos partidos, governantes e legisladores, principalmente todos aqueles que existem como resultado de nossos votos. É nosso dever e direito cobrar, sempre e repetidas vezes, demonstração de compromisso com o interesse coletivo, o decente e exemplar cumprimento do mandato, o trato honesto com o que é público e a coerência para o que se propôs fazer e para o qual foi eleito. Cidadão que se preze cobra diariamente dos políticos e os avalia sem troca de favores na hora de definir o voto.
Lamentavelmente, o que se vê na realidade atual é um comportamento de torcida de futebol no trato da política. Com a amplitude que tomou as relações pessoais através das redes sociais, o esporte que passou a ser o preferido são as agressões por causa de políticos e da política. Parece que o que mais vale é quem tem mais capacidade de ataque, cada vez mais agressivo. Bolsonaristas contra lulistas, lulistas contra bolsonaristas, zemistas contra o que passou e o que passou contra zemistas no Estado, ronaldistas contra mucidas e vice-versa em Itabira, petistas contra tucanos em Monlevade e daí pra frente ou pra trás. Parece um torneio de cuspe à distância para ver quem acerta a cara do outro.
Os reais problemas do Brasil, de Minas e de cada município, o debate de propostas e soluções, não interessam aos candidatos e, parece, muito menos aos eleitores. Concluo este texto torcendo muito para que minha análise esteja errada e na contramão dos fatos. Tomara. E viva a democracia
() Márcio Passos é jornalista e fundador do A Notícia