As pandemias, como a Covid-19, transformam e modificam as cidades com alterações socioeconômicas e culturais, de maneira intensa e inesperada. Esta epidemia trará mudanças profundas no comportamento em geral: desde a forma de comunicação até nas etapas de produção e consumo. Ainda, impacta diretamente em como será a vida nas cidades no futuro.
É com a ocorrência de surtos mundiais que percebemos que devem ocorrer mudanças, sendo uma delas nas moradias. Temos que estudar novas políticas públicas para o setor, de forma mais participativa, a partir de parcerias com iniciativas privadas e conscientização da sociedade para ser mais caridosa e solidária. Notamos que o modelo de ocupação atual, que se deu de forma desorganizada, favorece o contágio de doenças.
Quanto à mobilidade urbana, foi necessária uma pandemia para que a sociedade e o poder público identificassem a insalubridade no deslocamento das pessoas, principalmente nas questões sanitárias dos veículos e, também, em sua superlotação. Espero que, com esta experiência, a limpeza e a frequência do transporte público passem a ser prioridades e tenham como meta a saúde dos usuários e não apenas o lucro dos permissionários.
Houve a priorização do comércio de bairro que, além de fortalecer a economia local, contribuiu para descentralizar e diminuir os deslocamentos de veículos.
O home office, ainda um desafio para o Brasil, pode continuar, considerando que melhora o sistema de transporte e, consequentemente, os níveis de poluição.
Por fim, a Saúde Pública foi impactada, considerando que a pandemia tornou ainda mais evidentes as deficiências do nosso sistema. E, quando falo sobre saúde, digo que devemos integrar as políticas de saneamento entre os gestores e os concessionários dos serviços de água e esgoto. Investimentos em saneamento impactam positivamente a saúde da população, pois diminuem os custos do sistema de saúde, sobretudo o público.
E, finalmente, a economia pensada dentro da Engenharia. Precisamos discutir as políticas públicas para enfrentarmos a pobreza e as desigualdades sociais, dotando de infraestruturas básicas as regiões de ocupação consolidadas. Ao mesmo tempo, é preciso fomentar a geração de emprego, a capacitação e a abertura de pequenos novos negócios.
É importante que a Gestão Pública tenha ferramentas de análise espacial que estejam à disposição dos planejadores, dos tomadores de decisão, das universidades e da sociedade. Além disso, ela precisa ser traduzida para versão mobile com linguagem acessível a todos.
As cidades deveriam ser menos seletivas e classistas, pensadas por pessoas e para as pessoas, sem adoecer seus moradores, especialmente, os segmentos mais pobres. São esses os que menos têm condições de enfrentar uma pandemia.
O sucesso no controle da pandemia depende do esforço coletivo. A engenharia e seus profissionais vão ter que se reinventar, atualizar e superar os desafios. No momento, o melhor a fazer é agradecer a Deus pelo dom da vida e pela oportunidade que Ele nos oferece para repensarmos e renovarmos também a nossa relação com o próximo.
(*) Eduardo Quaresma é engenheiro civil e professor universitário