Desde 1984
Breno Eustáquio
22 de Maio de 2020
S.O.S humanidade

Já vivíamos tempos difíceis. Mas, com a pandemia do novo coronavírus, a era dos extremos humanos chega ao seu ápice. Vários ingredientes acentuam ainda mais a situação de gravidade, como o medo da morte, o medo do desemprego e o medo do amanhã. Mas uma coisa é certa: a vida nunca mais será a mesma. Há quem argumente que a humanidade terá que aprender a conviver com pandemias que vão se tornar mais comuns do que se pensa. Já li que será uma como a de Covid-19 a cada 10 anos. Outros dizem que, se não houver uma vacina, poderá haver novos surtos a cada dois ou três anos. Os prognósticos são variados, porém a lição que deverá ser aprendida é que, para vencer as consequências da pandemia, será preciso muita, mas muita humanidade.

Dada a conjuntura mundial, nenhuma outra situação do passado é igual a essa. Mas, já possível perceber e aprender que ser mais humano pode ser um ótimo remédio para diminuir as consequências do presente e do futuro. A cultura, por exemplo, tão relegada a um processo de desvalorização em meio a uma sociedade cada vez mais tecnicista e automatizada, tem servido de conforto nesses tempos de isolamento social. As lives nas redes sociais ou até mesmo os shows de artistas nas varandas não deixam mentir. A importância dos profissionais da educação também tem sido sentida agora que as aulas estão suspensas e sem previsão de retorno. Muitas famílias têm percebido que, se educar os filhos em casa já não é tarefa fácil, imagine para um professor que tem quarenta “filhos” para educar.

Por mais tecnológica que seja, a humanidade tem percebido que nada, absolutamente nada, substitui o contato físico entre pessoas. Até em países em que culturalmente seus cidadãos são mais reservados, a saudade de um abraço de entes queridos e o contato pessoal e íntimo com a família e com os amigos têm feito muita falta. A tolerância, a empatia, a ética e a solidariedade também estão no rol de ações que emergem como prioritárias, pois a pandemia atenta contra a segurança e a vida dos mais vulneráveis (pobres, crianças, mulheres, idosos, indígenas, entre outros).

Também vale destacar aqui que o combate à ignorância desempena papel salutar na luta contra a Covid-19. A desinformação torna mais grave o cenário, especialmente em nações como o Brasil, em que há pessoas mais preocupadas com a economia do que com a integridade do próximo. É claro que a pandemia vai deixar uma ferida enorme no atual sistema econômico, que terá que ser adaptado e até mesmo repensado. Mas essa é uma oportunidade ímpar para refletir sobre o valor da vida e sobre o quanto vale estar perto de quem amamos. 

A pandemia tem dado, diariamente, um “tapa na cara” de todos nós ao escancarar realidades que ignorávamos. Isso faz com que a humanidade volte o seu olhar para ela mesma, suscitando que sejamos cada vez mais compassivos para darmos conta do que vem aí: desemprego, fome, instabilidade e mais crises existenciais. Por esse motivo, sejamos mais solidários, mais preocupados com o próximo, fazendo o exercício diário de se colocar no lugar do outro. Parece pouco, mas um sorriso no rosto e um aceno mesmo que atrás de uma janela, fazem muita diferença para aquele vizinho que vemos todos os dias, por anos, mas nunca trocamos um bom dia. Ser mais humano pode não ser a tão esperada vacina para o novo coronavírus, mas com certeza é um alento que acende uma luz para os tempos vindouros.


(*) Breno Eustáquio é professor universitário na Doctum e na UEMG Monlevade

JORNAL IMPRESSO