Muitas pessoas me abordaram e questionaram nas redes sociais qual é o meu posicionamento em relação ao racismo e ao movimento #blacklivematter ou seja: vidas negras importam. Os questionamentos dessas pessoas eram cercados por argumentos como: todas vidas humanas importam, todas as lutas são iguais e merecem a mesma atenção. Além disso, que a pandemia trouxe dificuldade para todos os pobres e não só para os negros.
E, claro que concordo que todas as vidas humanas importam independentemente da cor, raça, gênero, orientação sexual e por aí vai. Todos nós somos humanos, mas a indagação em questão é mais profunda: merecemos o mesmo respeito, mas não temos.
Convido às pessoas não negras a se juntarem a grande reflexão em relação aos seus privilégios. Claro que entendo que privilégios tem vários níveis, porém, aqui abordo somente a questão relacionada ao racismo.
A branquitude aqui no Brasil vem das características físicas, então mesmo que você, como a maioria dos brasileiros, tenha familiares negros, nem sempre você vai sentir o racismo, caso você seja branca e possua características da branquitude.
O cotidiano de pessoas pretas é cercado de eventos como serem barrados em algum lugar, se sentir desconfortável em alguma loja mais chique ou até mesmo sentir medo de ser parado em uma blitz só por causa da cor da pele. Precisamos treinar nosso olhar. Reparem ao seu redor, existem pessoas pretas nos grandes cargos dentro de escritórios? E nos governando? E ainda fazendo parte da mídia? Essa realidade vagarosamente tem mudado.
Quando vamos fazer um recorte econômico-social notamos: na favela a maior parte das pessoas são pretas. As pessoas que são mais presas: são pretas. Os crimes, em contrapartida, são quase que igualmente cometidos por pretos e brancos. Os salários mais baixos são de pessoas pretas.
E, sim é triste, mas são todas as características visíveis do racismo estrutural. Creio que as pessoas que me questionaram não conseguiram enxergar e sabe qual o motivo? Elas não são antirracistas e talvez sejam racistas. Triste e real. Os pretos começam cada dia a se amar mais. Assumir suas características sem branquear com cosméticos. Tranças, black power viram motivo de orgulho. E, essa luta está tomando força. Cada atitude de empoderamento gera incômodo nos racistas. Pasme, se você se incomoda com isso, provavelmente, você é racista e precisa estudar e evoluir muito a sua empatia, sua bondade e acima de tudo evoluir como pessoa. Uma pessoa boa luta pela igualdade. Uma pessoa boa é antirracista. Ela acolhe a luta e não questiona para desmerecer o movimento ou a dor que assombra as pessoas pretas a séculos.
Por isso nós vamos continuar falando, postando e exigindo: vidas negras importam. Vidas negras merecem respeito. Vidas são iguais e merecem ser tratadas como iguais, então vamos cobrar por esse direito básico para quem já foi muito esquecido. O sonho de todos que estão na luta contra o racismo com certeza é que a importância das vidas pretas seja dada como dão atualmente às vidas brancas. O fato é, existe a desigualdade hoje. Já a direção é hoje a resistência e a coragem reinam. Então, independentemente da cor, essa luta é de todos. Minha, sua nossa. De todos que acreditam na igualdade e acima de tudo de todas as pessoas do bem e para o bem. Não paremos agora!
(*) Alexsandra Mara Felipe Fernandes é presidente da AMAD-Associação Monlevadense de Afrodescendentes, Diretora dos Doutores do Riso e integrante do Salve Pretitude