Desde 1984
Breno Eustáquio
17 de Julho de 2020
A pandemia e seus impactos na educação

Refletir sobre educação não é uma tarefa fácil, especialmente, num país como o Brasil onde a desigualdade social soa como um tumor em vários setores, entre eles a escola. Falar de educação durante a pandemia do novo coronavírus torna ainda mais sensível qualquer abordagem sobre o tema. No entanto, alguns aspectos merecem a atenção da sociedade, uma vez que defender o fortalecimento do ensino nunca é demais. Aliás, só com educação é que o Brasil poderá construir um amanhã mais digno.

Da mesma forma que a Pandemia escancarou vários problemas sociais que antes eram maquiados ou ignorados por nossa sociedade, esse momento também se refletiu em expor ainda mais as fragilidades da escola. E isso em todos os contextos, seja no sistema público ou no privado. Como o vírus não “escolhe” classe, cor ou raça (embora ele atinja mais os economicamente vulneráveis) todo mundo teve que parar. E essa paralisação representou uma perda econômica considerável no sistema privado, além de prejuízo social no sistema público. 

As escolas privadas precisaram correr para evitar danos que poderiam ser irreversíveis na educação de crianças, jovens e adultos. Mas, para muito além da questão pedagógica, não podemos desconsiderar o fato de que uma escola privada é uma empresa. A adaptação para aulas on-line exigiu muitos investimentos em tecnologia (o que já é naturalmente caro) e treinamento de mão de obra, tudo em tempo recorde. Muitas instituições conseguiram amenizar os efeitos da quarentena, mas muitas outras não tiveram alternativa, senão fechar as portas. A evasão tem sido um fantasma em escolas privadas brasileiras, consequência, é claro, do desemprego que cresceu vertiginosamente. Nos últimos dias, temos tido notícia de demissões em massa de professores em muitas cidades. E há quem diga que a situação não vai melhorar tão cedo.

No sistema público, também há muitos problemas. Além da paralisação das aulas, os estados correm para implantar sistemas de aulas on-line, mas se esbarram na desigualdade. Um a cada 5 lares no Brasil não tem acesso à Internet. Em muitas casas, há apenas um celular onde duas ou três crianças se revezam para assistir às aulas. Adiciona-se a essa conta o fato do Brasil ainda não contar com conexões de qualidade, com o acesso banda larga ainda longe de chegar a comunidades pobres. Isso sem falar na fome e na violência. É que escola pública no Brasil não é local apenas para aprender. É também lugar para onde crianças e jovens vão para matar a fome e, muitas vezes, para fugir da violência a que estão expostos dentro e fora de casa. Com os educandários fechados, já dá para imaginar as consequências.

Ao fim da pandemia, tomara que a educação brasileira saia fortalecida. E isso só vai ocorrer quando a sociedade reconhecer o valor da escola e dos professores, que merecem salários melhores pelo esforço e dedicação inerentes ao fazer pedagógico. A educação não pode ser tratada como mercadoria e com descaso pelos governos. Senão toda a nação brasileira estará fadada a continuar vivendo à sombra do subdesenvolvimento.


(*) Breno Eustáquio é professor universitário na Uemg e na Doctum Monlevade

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