Em meu primeiro artigo para o jornal explorei o tema 'Agricultura em economia Solidária'. Hoje, vou abordar a pandemia do coronavírus, a agricultura e a economia Solidária. É chover no molhado afirmar que a agricultura é estratégica para que o mundo supere a Covid-19. O setor agrícola é essencial para evitar uma crise, sem precedentes, de abastecimento de 7,7 bilhões de pessoas no mundo. A falta de alimentos ou a 'simples' irregularidade no abastecimento pode afetar a saúde das pessoas e, até mesmo, abalar nossa frágil harmonia social em uma hora que dela precisamos mais.
Em nível de país, o único setor que resistiu ao impacto da pandemia foi o agrícola, na verdade fez melhor, aponta um crescimento de 2% em um cenário que prevê diminuição do crescimento nos demais setores produtivos. Ou seja, mais do que nunca, a agricultura faz o papel de Atlas (ou Atlante, o titã condenado por Zeus a carregar o mundo nas costas). Felizmente, quem vive no meio rural já vive em isolamento social basta verificar os números: a área urbana do país ocupa cerca de 5% do território e abriga 84,72% da população sendo que os restantes 15,28% encontram-se espalhados nos 95% restantes da área. Isso possibilita que, no meio rural, possamos manter as atividades produtivas, com pequeno risco de contaminação.
Bem, mas como a pandemia pode afetar o setor agrícola de João Monlevade? Simples, a agricultura monlevadense é familiar, e essa é a mais atingida pela pandemia! O isolamento social imposto no meio urbano fechou as portas de restaurantes, food services, bem como a interrupção do fornecimento de merendas escolares, a suspensão de feiras e o fechamento de pizzarias, restaurantes e lanchonetes, etc., que compram diretamente dos pequenos produtores locais, representaram um duro golpe na receita dos agricultores familiares. Há que se considerar também a mudança de hábitos das pessoas em quarentena. Esse cenário praticamente impediu o escoamento da produção da agricultura familiar, uma verdadeira agonia para as cadeias de hortaliças, alguns legumes, frutas, flores, leite e derivados e ovos.
O que fazer? Exatamente o que abordamos no artigo comemorativo do aniversário da cidade: praticar a economia Solidária. Seria interessante também a adoção/manutenção de programas públicos de aquisição direta dos produtores rurais, à semelhança do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), que assegura a entrega de alimentos aos alunos da rede pública mesmo sem as aulas, com os produtos alimentícios continuando a serem distribuídos para as famílias desses estudantes, enquanto os produtores preservaram seu canal de comercialização. Por outro lado, sejamos criativos, é na dificuldade que encontramos as soluções. Portanto criemos. Grande abraço.
(*) Caetano Marciano de Souza é monlevadense, engenheiro agrônomo e professor da Universidade Federal de Viçosa (UFV)