Li em vários lugares que o ano de 2020 não foi um ano de pedir, mas de agradecer por tudo o que temos. Concordo em gênero, número e grau. Se você está lendo esse texto, considere-se um privilegiado: você terminou esse período turbulento com saúde. Especialmente se você teve Covid-19. Muitos amigos me relataram a sensação de horror de ter o diagnóstico positivo misturado com a iminência da morte. Também conheço algumas pessoas que desenvolveram a forma grave da doença e travaram uma dura batalha pela vida em uma Unidade de Tratamento Intensivo. Entre os mortos, também vários nomes de pessoas que em algum momento da vida convivi. Ainda ecoa na minha cabeça o relato horrível de uma aluna cujo pai morreu ou a tristeza de outro aluno que perdeu a mãe para a mesma doença e sequer pode se despedir.
O ano de 2020 serviu para nos mostrar o quanto somos frágeis e o quanto temos que valorizar a vida. Não de uma forma individual, mas, sobretudo coletiva. O meu cuidado não é só para mim, mas para o outro. Se eu uso máscara, faço distanciamento social e lavo as mãos, estou protegendo a mim e aos meus. E assim, vamos fazendo uma corrente de proteção para evitar que nossos queridos entrem para a triste estatística de até 1% de pessoas infectadas que vão a óbito por causa do novo coronavírus. Há quem considere esse índice de letalidade muito baixo. Mas quando transformamos números em vida, qualquer percentual, ainda que baixo, importa.
Vamos encerrando 2020, claro que na esperança de dias melhores em 2021. Porém, a vigilância não pode parar, uma vez que os prognósticos são de um ano tão difícil quanto este que termina. Basta lembrar que quando se trata do Brasil, além do negacionismo, ainda temos problemas estruturais que vão fazer a vacina demorar um pouco mais para chegar às camadas mais pobres e vulneráveis da população. Não sejamos terroristas, mas realistas. O mundo não é mais o mesmo e, certamente, nunca mais tenhamos que abandonar hábitos de proteção e prevenção que tivemos que aprender na marra. Que 2021 seja o ano do fim da Pandemia, mas que também nos mantenhamos sempre vigilantes diante do risco que ainda está muito longe do fim.
Dica de filme
Gostaria de deixar uma dica de filme. Chama-se Contágio e é estrelado por grandes nomes do cinema como Gwyneth Paltrow e Matt Damon. É de 2011, mas parece que foi gravado em 2020. Conta a história, justamente, de uma pandemia bem parecida com a de Covid 19. É um drama com exageros típicos das produções hollywoodianas, mas que expressa bem o contexto que estamos vivendo. Chama a minha atenção no filme o papel das fake news e as tentativas de manipulação política de pessoas que querem tirar vantagem da situação, mesmo com a humanidade em risco. Chama atenção também a forma como a pandemia retratada no filme começa: com a degradação do meio ambiente. Vale muito a pena assistir.
(*) Breno Eustáquio da Silva é professor universitário