Desde 1984
Nivia Martins
15 de Janeiro de 2021
Sentimento atemporal
“Viver é morrer aos poucos quando vamos perdendo os amigos”. Palavras cheias de sentimentos do meu pai na passagem de seu aniversário. Confesso que ao ouvir isso tremi por dentro. Quanta experiência de vida havia naquele momento. Sinto desde que papai perdeu o seu Amigo/Irmão que a tristeza o acompanha. Como essa tristeza demora a virar saudade!

Aquele homem durão que pouco conversa quebrou seu silêncio, transbordou o que tinha em seu íntimo. A essência de seu desabafo é a máxima do amor fraterno e talvez ele nem o saiba. Amigos partem e junto se vai um pouco da gente, todavia muito fica entranhado em nossas memórias. A presença, a cumplicidade, o afeto e os quase inevitáveis afastamentos pelas circunstâncias da vida fazem parte do processo. Amor fraterno é atemporal.

Há um poder incrível na amizade. Se importar com o outro, querer cuidar, meter os pés pelas mãos, às vezes, fechar a cara e abraçar com carinho tempos depois. E ao contrário do que dita, o senso comum, não necessitar saber tudo do outro e sim o suficiente para amá-lo como é.

Esse amor tem a magia da simplicidade, atravessa o tempo, a distância, as diferentes experiências vividas. Viver meu pai é muito isso, morrer aos poucos, até biologicamente, mas amigos não se perdem, eles permanecem em nossas almas como boas lembranças de tempos felizes.

(*)Nívia Leles Martins é jornalista e produtora cultural
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