Da forja de Jean Monlevade até o recebimento do título de Capital Mundial do Fio Máquina, a história e a vocação de nossa cidade sempre estiveram intimamente ligadas à siderurgia. Em 2009, quando cheguei à cidade, de acordo com os dados do IBGE, o setor industrial era responsável por mais da metade do PIB Monlevadense. De lá para cá as coisas mudaram um pouco.
No último ano da série do IBGE, 2018, a indústria contribuiu com 43% do PIB local após uma forte recuperação em relação ao ano anterior. Não obstante, desde 2012, o serviço é o setor que mais contribui para o nosso PIB. Tendo como referência dezembro de 2020 e aplicando o IPCA como fator de correção, é possível perceber que a economia monlevadense cresceu 8% entre 2010 e 2018, tendo atingido seu ápice em 2014 e seu menor valor em 2016. Desde então, vem se recuperando lentamente.
O setor de serviços, que cresceu mais fortemente até 2014, agora se recupera mais lentamente que a indústria. É provável que o ano de 2020 tenha afetado negativamente mais o setor de serviços que a indústria e, portanto, pode ser que a indústria volte a liderar a economia local. Essa corrida acirrada entre os dois setores demonstra um potencial de diversificação econômica do município.
Outra mudança importante foi a chegada das Universidades Públicas em nossa cidade no início do século. Com a implantação do curso de engenharia mecânica na UEMG, Monlevade passará a oferecer, por meio da UFOP e UEMG, 9 cursos de graduação voltados a áreas tecnológicas. A cidade é hoje capaz de formar profissionais e desenvolver pesquisa de ponta em mineração, metalurgia, construção civil, automação, computação e produção. Temos especialistas para discutir inovação tecnológica, ciência de dados e indústria 4.0 no contexto da atividade econômica local, por exemplo.
Essas mudanças me fazem refletir: Como estará nossa cidade em 2050? Obviamente não é possível prever, mas é possível interferir nos rumos do desenvolvimento de João Monlevade. Infelizmente, não é comum no Brasil a criação de políticas de longo prazo, em especial em âmbito municipal. Apesar disso, dois de nossos vizinhos, capitalizados pelos royalties e orientados pelo esgotamento desse recurso, possuem iniciativas voltadas para o desenvolvimento local. Seria possível fazer algo em Monlevade?
O desenvolvimento local é um processo que depende da participação e da sinergia entre os diversos atores sociais para promover o desenvolvimento econômico. Por meio de incentivos e de governança é possível estimular tal desenvolvimento. As políticas públicas possuem papel fundamental e, embora iniciativas municipais tenham potencial limitado quando comparadas a estratégias nacionais, localmente é mais fácil envolver a sociedade civil e garantir a perpetuação de uma ação para além de um ou dois mandatos de cargos públicos.
É possível investir na economia criativa, na criação de empresas de base tecnológica, no aprimoramento de elos da cadeia de suprimento à montante e à jusante da produção de aço, na economia solidária, na criação de arranjos produtivos locais ou na exploração do potencial logístico da cidade. A escolha do(s) caminho(s) deve ser orientada pelo crescimento econômico sustentável e socialmente justo e embasadas em estudos consistentes conduzidos por profissionais qualificados. Independente do caminho escolhido, o salutar é que o desenvolvimento seja pensado.
(*) Thiago Silva é engenheiro de produção com doutorado em Otimização de Sistemas e
diretor do Instituto de Ciências Exatas e Aplicadas da Universidade Federal de Ouro Preto.