Será que o pessoal não sente falta de poesia na música? Será que não tá faltando mais solos de guitarra? Mais compassos truncados? Mundo mais formatado esse nosso! Tudo metrificado! Será que o porcelanato é nosso novo solo? Será que a turma não sente falta de pisar descalço na terra? Será que não tá faltando caminhadas no mato, contatos com a mamãe natureza? Será que não estamos alienados demais? Conectados a algoritmos que tentam nos adivinhar, mas nos tangem?
Será que não tá faltando reza? Será que não tá faltando coragem? Será que já morremos ou só estamos esperando o momento certo pra agir? Será que esse momento chega? Será que o golpe vem agora ou vai ficar pro próximo milênio? Será que os ETs vão baixar agora ou vão esperar a Covid passar? Será que um dia seremos dignos de conviver com seres mais evoluídos? Será que estaremos aqui conversando no mês que vem? Será que a Covid vai nos pegar ou vamos continuar “desescolhidos”? Será que vamos voltar ao anormal, pois normais nós nunca fomos? Será que a economia vai rodar macio? Será que o home cai ou não cai? Será que a ficha vai cair e vamos dar de cara com nossos desenganos? Será que vamos naturalizar os números? Acostumar-nos com a morte, como algo corriqueiro?
Será que temos de apagar memórias afetivas, relevar a história e focar nos likes? Será que teremos de nos curvar ao utilitarismo? Será que vamos suprimir o nexo pra enxugar o texto e desligar a alma? Será que ficaremos obsoletos, úteis apenas como consumidores pra girar a economia? Será que vamos dar um google pra descobrir o sentido da vida? Será que vamos nos ... cancelar?
(*) Marcos Martino é compositor e ativista cultural