Jean Antoine Félix Dissandes de Monlevade, último desbravador europeu do século XIX, veio da França e chegou ao Brasil no dia 14 de maio de 1817. Há 200 anos, Jean trouxe seu conhecimento em mineralogia, seus ideais e o espírito empreendedor que mudou a nossa história. Se não fosse a chegada dele, a história seria outra.
Hoje, celebra-se 204 anos desta data que mudou os rumos de nossa região. Sem Jean de Monlevade e seu pioneirismo, talvez não seríamos o berço da siderurgia no país. Sem a Usina, erguida nas terras do velho Monlevade, o município polo da região, seria como mais uma das inúmeras cidadezinhas brasileiras.
Sempre digo que é preciso olhar o futuro, caminhar sempre para frente, mas sem esquecer-nos de olhar para o passado. Em qual cidade já vivemos, em qual estamos e em qual queremos viver? Essa pergunta deve ser feita pelos líderes municipais e por todos aqueles que sonham com uma vida melhor.
É fundamental não esquecer que a cidade de João Monlevade foi construída por braços de imigrantes que amaram esse lugar. É preciso recuperar esse legado e não deixar que morra a força criadora da nossa terra. Afinal, somos a última cidade do país a ser erguida pelo pioneirismo de um europeu.
Monlevade nasceu grande, porque sediou, a partir de 1825, uma das mais importantes Fábricas de Ferro do Brasil Império, com uma potente forja, ao estilo catalão. Após alguns anos, Jean de Monlevade adquiriu equipamentos ingleses, que vieram de navio e subiram o rio Doce, em histórica expedição comandada por Guido Marliére, com ajuda de índios e consolidou a fábrica como uma das mais prósperas da época.
Além da produção de enxadas, foices, machados, alavancas, pás, ferraduras, cravos, martelos, puxavantes, freios para animais, moendas para engenhos de cana, entre outros artefatos, Monlevade tinha qualidade em tudo o que produzia. Tanto que torna-se fornecedor preferencial de companhias estrangeiras que iniciavam empresas mineradoras no Brasil.
Foi com o ferro produzido por Monlevade que a mineração de ouro ganhou ainda mais força. A fábrica produzia cabeças de ferro forjado, de 80 quilos, utilizadas na atividade mineradora. Essas peças eram chamadas pelo próprio Jean de Monlevade, de “mãos de pilão” e foram fundamentais para a retirada de ouro na segunda metade do século XIX em toda Minas Gerais.
Hoje, depois de 200 anos, e mais do que nunca, a memória de Jean de Monlevade precisa estar viva. Seu espírito grandioso deve ser lembrado, trabalhado e discutido, para não ser esquecido. Não somos apenas uma cidade a 100 km de Belo Horizonte, às margens da BR-381. Somos berço da siderurgia nacional, cujo elo com a Europa se dá desde a fundação, com o francês e da edificação, com os Luxemburgueses. Além disso, a cidade precisa despertar sua vocação para a inovação, recuperar laços com outros países e elevar-se ao que é, de fato, seguindo sua vocação ao pioneirismo.
Hoje, 14 de maio, é Dia de João Monlevade, data instituída por meio da Lei Municipal nº 2.207/2017, com o objetivo de homenagear o engenheiro francês, grande precursor da siderurgia brasileira. Em 2021, a data deve passar batida, sem homenagens, sem debates e sem referência à nossa história, o que é profundamente lamentável. E a pergunta que não cala: quando vamos entender que o espírito de Jean de Monlevade vive? Para tanto, resta entender a grandeza do seu nome, de sua história e memória, para buscar a cidade que queremos e merecemos viver.
(*) Erivelton Braz é editor do A Notícia e fundador da Rotha Assessoria em Comunicação