À espera de atendimento na recepção de uma clínica, recebo uma mensagem da vice-presidente da Acimon Mulher, Ercy Eduarda, me convidando para falar sobre positividade e o meu papel como mãe, esposa e empreendedora em tempos de pandemia. Passa um turbilhão de coisas em minha cabeça. Meus olhos começam a lacrimejar. Tenho um aperto no peito. Foram tantas coisas vividas nos últimos meses, muitas perdas, mudanças e desafios. Assim como para a maioria das pessoas, a pandemia e seus impactos viraram a minha vida do avesso.
E quando a tristeza começa a chegar me lembro que o tema é positividade. Respiro fundo. Imaginar que é possível estar sempre alegre agora é, no mínimo, irreal e desumano com a tristeza vivida por tanta gente. Mas passo a pensar nos aprendizados e no amadurecimento que esse tempo tem nos proporcionado também.
Quando a pandemia chegou e me deparei com a necessidade de mudar minha rotina, filhos estudando em casa, trabalho dividido entre presencial e home office, medo da doença e do desconhecido, foram dias de muita ansiedade. Mas assim como a notícia que não pode esperar para ser publicada, encarei a nova realidade de frente e não criei muitas expectativas de que tudo se resolveria em pouco tempo. E assim tem sido, entre altos e baixos, por mais difícil que seja a realidade, acho que a maneira saudável é encará-la do jeito que ela é. Aprendendo com as situações negativas e buscando a superação.
Por trabalhar com imprensa, minha atividade não parou um dia sequer, pelo contrário, as demandas aumentaram, principalmente, no ano passado quando era tudo muito desconhecido ainda. O serviço não pausou, mas a rotina foi bastante alterada. Os assuntos de trabalho, que antes eu cuidava para que não passassem do portão para dentro de casa, a cada dia, tomaram mais espaço no ambiente familiar. Foi um grande desafio, ainda mais por precisar abordar assuntos tão negativos na presença dos meus filhos.
A doença, que no início estava distante, nas telas da TV e na internet, rapidamente chegou ao noticiário local, realidade ainda mais ampliada dentro da minha casa devido ao meu trabalho. Sempre falei a verdade para meus filhos, respeitando a idade de cada um. E quando o coronavírus deixou de ficar restrito às notícias e chegou dentro da nossa casa, eles mostraram maturidade e compreensão diante do momento vivido. Acompanhar situações difíceis vividas por familiares e amigos não é fácil, mas por terem conhecimento da realidade, acredito ser menos traumático para eles enfrentarem tudo isso.
A relação da família mudou. É gratificante poder dar mais atenção, estar mais próxima, acompanhar a rotina e crescimento dos meus filhos. A relação com o trabalho também mudou. Hoje vejo que é possível otimizar melhor o tempo conciliando atividades profissionais e pessoais. Tem dia que parece que estou numa olimpíada e que tenho que correr para dar conta de tudo. Nem sempre consigo, verdade seja dita. Mas se não der, amanhã é um novo dia e recomeço tudo outra vez. Tentando me cobrar e me culpar menos. E assim seguimos, vivendo um dia de cada vez.
(*) Maria Cecília Passos é jornalista, diretora do A Notícia e integrante da equipe Acimon Mulher