Breno Eustáquio da Silva
11 de Junho de 2021O Dória necessário
Você já parou pra pensar o quanto a diversidade é importante para a manutenção da vida? Se sua resposta é não, convido você para fazer uma reflexão, trazendo como exemplo o governador do Estado de São Paulo, João Dória. Não sou fã, mas também não tenho nada contra. O que me chama atenção no Dória é que na contramão ideológica do Bolsonarismo, o cara peitou o presidente da República e viabilizou o início da vacinação contra a Covid 19 no Brasil. Graças ao Dória, Bolsonaro e seguidores da Cloroquina e Ivermectina tiveram que adotar a única solução para essa praga que nos atormenta desde março de 2020. É claro que ainda estamos longe de chegar no cenário ideal de 70% da população vacinada com as duas doses, mas se hoje a situação é ruim, sem a insistência do Dória seria muito pior.
Longe das paixões políticas que nos movem, sabe-se que por trás de tudo, há um jogo de poder envolvendo a disputa presidencial de 2022 intensificada com o PSDB, um velho cacique da elite política nacional. Mas mesmo com isso tudo, não se pode negar. O louro da vacina no Brasil é do Dória e do Butantã. Está registrado nos anais da História. Inclusive, a impressão que tenho é que o Governo Federal para tentar desviar o foco da “vacina do Dória”, recorreu à Fiocruz para viabilizar a vacina da Oxford/Astrazeneca e nesse quesito eu quero ver o circo pegar fogo porque essa “guerra” é benéfica para o povo brasileiro.
Dei esse exemplo do Dória para mostrar que diversidade de “visões, pensamentos e opiniões”, ao contrário do que muita gente pensa, é benéfico para a nossa vida em sociedade. E vejo isso em vários contextos, especialmente na escola onde, durante décadas, a diversidade era desencorajada com práticas pedagógicas medievais. Quando cursei a educação básica nos anos 80 e 90, existiam turmas A, B, C , D, E, etc e quanto mais avançavam no alfabeto, mais “burra” era a turma que ali estava. Concentravam os talentos nas primeiras classes e os ditos “desafortunados de intelecto” era despejados nas turmas J, K, L ou M da vida. Até que os educadores perceberam que a criação de um ambiente de colaboração potencializava a aprendizagem dos talentos e quase que resolvia os casos de alunos que acompanhavam num ritmo, digamos, “mais lento”. As letras sumiram e vieram os números apenas por uma questão de organização.
Por experiência própria, na faculdade, vejo muito o quanto a diversidade beneficia. Turmas minhas com alunos deficientes despertam muito mais a solidariedade e preocupação com o próximo do que em turmas em que não há ninguém com deficiência. Um amigo educador sempre diz: “se estamos em um ambiente em que todos pensam da mesma forma, o que existe para aprender?”. Concordo com ele! Por isso sou a favor de que Bolsonaros sejam peitados por Dórias, que evangélicos convivam com católicos, que homens e mulheres partilhem ideais, pontos de vista e particularidades; que a população LGBTIA+ tenha voz e vez de expressar sentimentos, lutar por direitos. Aliás, que fique claro que não são apenas a diversidade política, religiosa e sexual que defendo. A diversidade cultural, dar voz às minorias, o espaço para a ciência e à racionalidade também são muito bem vindos. A própria história nos mostra que, na Antiguidade, as cidades mais desenvolvidas na Grécia, Itália, Oriente Médio ou norte da África eram justamente as que tinham maior contato com a diversidade.
Parece ser uma coisa fácil, mas garantir a diversidade não é. É que tem uma galera que usa da força econômica e especialmente a moral religiosa para demonizar a diversidade sempre com a intenção de manter o poder. E é aí que mora o perigo. Para tentar desmoralizar os Dórias da vida, espalham fake news ou fazem perseguições sem sentido, como a do vídeo do governador de SP nessa semana tomando sol num hotel e que viralizou com a ideia de que ele não estava cumprindo o isolamento social que tanto defendeu. Qualquer um com o mínimo de senso crítico pode ver que ele não estava aglomerado. Mas tentam colocar na cabeça do povo que sim, porque o Dória da diversidade é perigoso.
Junho é o mês dedicado à discussão da importância da diversidade e por isso escrevo esse texto. Abra a sua mente e se renda ao que é diferente. Isso com certeza te fará uma pessoa bem melhor, bem mais feliz. Prender-se a padrões só vai fazer os nós das amarras causarem-lhe mais dor. Verás que o Dória, a Jojô Todinho, o Gil do Vigor e até a Karol Concá são mais que necessários. A linha tênue para a boa convivência de cada com cada um de nós é a via de mão dupla do respeito e da prioridade de defesa à vida.
(*) Breno Eustáquio da Silva é professor universitário