Desde que comecei a me interessar pela política, afirmo que a salvação do Brasil se dará através da educação, seja ela na pauta econômica ou na pauta social. Uma pátria educadora oferece inúmeras possibilidades de encontrar meios para solucionar problemas urgentes, como a falta de saneamento básico e água tratada no lar de milhões de brasileiros.
Sempre me perguntam o que fazer e como fazer para potencializar a educação brasileira. A minha resposta é sempre a mesma: não há uma fórmula pronta, é preciso realizar um amplo debate nacional com professores, pesquisadores, estudantes, pais e sociedade civil em geral, para escutarmos o máximo de ideias possíveis e analisarmos a viabilidade da implementação dessas ideias. O primeiro passo é dialogar com todos, sem exclusão.
Afinal, toda ideia é bem vinda quando se trata de um projeto extremamente ousado. Depois, há a necessidade de categorizar a educação brasileira, com projetos específicos para cada faixa etária dos estudantes, da educação infantil ao ensino superior. No meu ponto de vista, é preciso investir vultuosamente na educação básica em nosso país, ou seja, dos 4 aos 17 anos.
O investimento será a longo prazo, sem resultado imediato. Com a aplicação desse investimento, o futuro acadêmico dessas crianças terá um rendimento infinitamente melhor, uma vez que o analfabetismo funcional é enorme nos dias atuais, principalmente nas universidades, lugar onde os estudantes deveriam ter uma base satisfatória de conhecimento, visto que já concluíram as demais etapas de ensino.
Mas, há outro fator que deve ser levado em consideração: a desigualdade. Como equivaler o ensino em uma escola pública de regiões de menor poder econômico com uma escola particular no centro de regiões de maior poder econômico? Infelizmente, a pandemia escancarou ainda mais essa discrepância do ensino brasileiro. Em determinadas localidades do Brasil, há a necessidade dos estudantes viajarem por horas, às vezes em situações precárias por meio de embarcações ou até mesmo a pé, para terem acesso às aulas ministradas com tanto carinho pelos professores. E o mais triste de tudo, não há a mínima condição de infraestrutura, tanto para o trabalho dos docentes, quanto para a absorção do conhecimento por parte dos discentes.
Em casos assim, também não há a presença da internet, ferramenta fundamental para o ensino atual. No Ceará, estado com a melhor educação pública do Brasil, há um fato que me chamou bastante atenção e me fez acreditar ainda mais sobre o investimento em educação básica e no ensino profissionalizante. Desde 2010, há cotas para estudantes da rede privada nas escolas públicas de tempo integral do estado cearense. Isso mesmo, você não leu errado.
Cerca de 20% do número total de alunos das escolas estaduais de educação profissional é destinada apenas aos estudantes que realizaram o ensino fundamental na rede particular de ensino. Os próprios pais dos alunos entraram com uma ação na justiça para terem o direito a essa “cota invertida”, o que deixa esse acontecimento ainda mais marcante. Portanto, após refletirmos um pouco sobre o ensino brasileiro, chego à conclusão que é necessário a idealização de um grande projeto nacional para investir fortemente na educação básica dos nossos pequenos cidadãos. É preciso unirmos para debater isso com calma e analisar ponto a ponto, preenchendo toda e qualquer lacuna. Finalizo citando uma frase muito interessante do pensador Victor Hugo, repetida muitas vezes por Ciro Gomes (ex-governador do Ceará), que retrata bastante sobre o que refletimos no texto: “Nada é mais poderoso do que uma ideia cujo tempo já chegou”.
(*) Samuel Miranda, monlevadense cursando Administração Pública na UFLA