Sou monlevadense da gema. Aqui nasci há quase 40 anos e nunca fiquei mais que 60 dias corridos fora daqui. É em Monlevade que tenho família, onde estudei, onde me fiz cidadão. E é onde me aventuro no desafio de educar os que para aqui vieram em busca do futuro e os que são filhos da terra e como eu escolheram permanecer na “terra do Francês”.
Há quem diga que Monlevade não é uma cidade próspera. Ledo engano. Para um município de apenas 57 anos, é a segunda maior cidade da região em habitantes (quase 81 mil) com uma área minúscula se comparada às dos nossos vizinhos. É possuidora, também de uma das melhores infraestruturas de serviços fruto de sua economia dinâmica. Mas não é perfeita. Tem muita coisa a ser mudada. E aproveitando a autoridade que me é dada por ser filho da terra (pelo menos eu imagino que isso seja relevante, se não for me perdoe), vou expor algumas coisas que eu, se pudesse, mudaria drasticamente.
1) A educação: embora tenhamos excelentes escolas e resultados comparáveis aos de primeiro mundo, se eu pudesse pensaria na educação do monlevadense como projeto de futuro. Afinal, estamos preparando nossos jovens para a revolução tecnológica que bate às nossas portas? E para, além disso, estamos oferecendo às nossas crianças uma formação complementar que privilegie ensiná-las habilidades como inteligência emocional, empatia, diversidade para que consigam resolver problemas complexos? Educação é ferramenta fundamental de desenvolvimento de um povo. Mas não pode ser uma ação isolada para cada 4 anos. É coisa de longo prazo, para dar frutos em 25 anos.
2) O trânsito: nossas ruas e avenidas precisam ser reprojetadas e pensadas como espaços que privilegiem não os automóveis, mas as pessoas. Isso sem contar o baixo nível de educação de motoristas e pedestres. Dirigir por aqui hoje exige sangue frio e muita paciência, principalmente quando você é xingado porque parou para pedestres atravessarem na faixa.
3) Espaços de convivência: para que servem nossas praças? Que atrativos elas possuem? Onde estão as fontes, os monumentos, a iluminação e os projetos paisagísticos robustos para serem contemplados, especialmente na periferia? E o Areão? Aquele espaço imenso está muito longe de ser um parque. Décadas se passaram e quase nada foi feito.
4) Cultura: onde estão o empresariado local e o poder público para abraçar de vez a cultura? E não falo de promover ações pontuais. É assumir o protagonismo cultural com a construção de um grande teatro (não com aquela estrutura básica do Centro Educacional), um cinema, um grande centro cultural, museus. Tem espaços e tem dinheiro: falta vontade. Eu vou sempre a Itabira para assistir filmes. Há dias em que a sessão tem mais monlevadenses que itabiranos. E não é exagero!
5) Estádio Louis Ensch: a quem aquilo atende? Não consigo ver ali nada além de um grande elefante branco. Ali poderia ser palco de grandes eventos. Já ouvi muitas discussões de que eventos ali são inviáveis porque acabariam com a grama! A grama! Mas nem o costume de ter partidas de futebol com ampla divulgação para a comunidade ali tem. E pelo amor de Deus não bote a culpa na pandemia.
6) Ensino superior: Monlevade tem duas faculdades públicas. DUAS! E já tem uma década e meia! Embora eu saiba que ambas desenvolvem dezenas de projetos, falta sinergia com o poder público para que os frutos das ações pesquisa e extensão sejam melhor aproveitadas. A Ufop é federal mas não é do Governo Federal. A Uemg é estadual, mas não é do Governo de Minas. Ambas são da comunidade de João Monlevade e precisam ser abraçadas como tal. Isso já acontece com a Unifei, em Itabira. É por isso que a vizinha teve 23 milhões de reais garantidos pelo governo de Minas. E pra Monlevade, nada!
7) O Pronto Atendimento (PA). Eu não entendo muito de saúde pública, mas tenho a impressão que o PA fora do Hospital Margarida é melhor para a população e para o próprio hospital.
8) Gente que só sabe discursar. Em 2022, teremos eleições estaduais e federais. Privilegie seu voto para gente que faz e não para gente que só discursa. No papel e na teoria tudo é muito lindo. Mas precisamos de resultado. E em 2024, faça o mesmo com as eleições municipais. Monlevade precisa de mais Antônios Gonçalves e Germins Loureiros que souberam projetar a cidade que cresceu 200 anos em três décadas. Precisa de mais Leonardos Diniz que souberam dialogar com a comunidade e promover mais participação popular. Precisamos de políticos de verdade e não de pessoas que estejam à frente do poder para representar uma classe específica. A política é do povo e para o povo, independente de etnia, religião ou sexo. Eu tenho a impressão que Monlevade parou um pouco no tempo, pois se rendeu a políticos que fazem do poder um projeto pessoal e de família (há exceções). É por isso que, às vezes, escuto gente de fora bater no peito para falar que Monlevade não é próspera. Pode não ser tanto agora, mas já foi muito.
Sei que esse texto vai mexer com o brio de muitos, especialmente, daqueles que a Monlevade de agora faz muito bem. Mas de que adianta receber o convite desse prestigioso jornal para escrever e não causar inquietação? Mudanças só ocorrem se incomodarmos. Que em 2022 e nos próximos anos, nossa amada Monlevade recupere o bonde do desenvolvimento e continue com seu protagonismo diante não apenas do Médio Piracicaba, mas de toda a nação brasileira.
(*) Breno Eustáquio é professor universitário, mestre em Administração