No último domingo (13), para complicar as rodovias na nossa região, uma carreta deu “L” em cima da Ponte Torta - local de vários acidentes e que precisa de intervenção urgente - impedindo o trânsito nas BR's 381 e 262. Ainda em virtude das chuvas, o Médio Piracicaba está quase isolado. A situação mostra a fragilidade do sistema rodoviário.
O solo dos morros saturados com as chuvas e sem drenagem alcançam a rodovia, a água infiltra abaixo do asfalto e destrói acostamentos e pistas. Por enquanto, Abre Campo, Nova Era, Rio Casca, Belo Horizonte e São Domingos do Prata estão interditados, ou com tráfego comprometido e receberam desvios precários.
A nova BR 381 duplicada tem problemas também, perto do trevo de acesso a Bom Jesus do Amparo, perdeu a sustentação e tem afundamento em seu pavimento com as enxurradas provocadas pelas chuvas. As vias de ligação do Médio Piracicaba continuam ameaçadas de interrupções devido a desabamentos progressivos e visíveis, sendo que alguns deles nem sequer foram sinalizados, ou ainda estão escondidos prontos para surgirem.
Motos, carros, caminhões, carretas e ônibus se esforçam para passar dividindo acostamentos, desvios e pistas com buracos, o solo se rompe e desliza ampliando progressivamente as crateras. As fortes chuvas mostram ser questão de tempo até que mais partes das rodovias caiam e sejam tragadas pela erosão, podendo até interromper mais pontos nas vias.
Desvios e pequenas contenções de asfalto feitos pelo DNIT apenas atrasam as enxurradas que descem pela rodovia e passam por cima do obstáculo, fazendo a beira do asfalto dependurado no precipício se transformar em queda d’água. Fendas e buracos se aprofundam nas encostas, descem do talude e vão se alastrando sob a terra, já minando outras partes ainda não visíveis da estrada. Em outros, o que ameaça são os deslizamentos de encostas, mas há desabamentos de rochas que pareciam sólidas ao serem abertas na construção da estrada sofrem com as chuvas, lama e água constante minam por vários pontos carreando continuamente detritos, e que comprometem pouco a pouco as condições das rodovias. As fendas de tração que surgem nos pavimentos são pontos de entrada de água, que comprometem toda a estabilidade das rodovias.
A falta de manutenção, que entendo ser primordial para evitar problemas futuros, ultrapassam a conservação rotineira dos contratos vigentes que se restringem a reparos localizados de defeitos na pista ou no acostamento com extensão inferior a 150 metros e manutenção regular dos dispositivos de drenagem, dos taludes laterais, da faixa lindeira, dos dispositivos de sinalização e demais instalações da rodovia.
A grande extensão de danos das chuvas necessitaria de contratos de conservação de emergência. Um conjunto de operações destinadas a corrigir defeitos surgidos de modo repentino, ocasionando restrições ao tráfego e ou sérios riscos aos usuários. A manutenção pode impedir o surgimento de diversas patologias que podem comprometer a estabilidade do pavimento, e consequentemente tornar difícil e oneroso a recuperação e reparos.
O DNIT tem contrato de manutenção e empresas para executarem serviços corretivos e permanentes, serviços de sondagens e monitoramento dos diversos locais atingidos com profissionais com expertise em ocorrências de alta complexidade. Os especialistas monitoram a estabilização dos locais e realizam os levantamentos necessários para elaborarem a solução definitiva dos problemas que surgirem nas rodovias. Porém, essa manutenção não parece ser suficiente.
Por que o deslizamento após o Posto Veraneio não teve o devido cuidado no período em que a BR 381 ficou totalmente interditada no Km 321 em Nova Era? É certo que as chuvas nesse período foram intensas, e ainda dificultam os serviços de reparos e recuperação, mas alguns destes problemas poderiam ser evitados? A manutenção foi adequada? E a passividade dos nossos representantes? A cobrança por soluções técnicas mais ágeis que favoreçam ou minimizem os problemas faz-se necessária. O Médio Piracicaba corredor do desenvolvimento de Minas Gerais e do Brasil pede respostas rápidas. O escoamento da produção mais representativa do PIB mineiro encontra-se comprometido.
As duas estradas BR-262 e BR-381 serão alvo de Leilão para concessão programado para o próximo dia 25. E então, estas BRs vão também dar “L”? Até quando precisaremos lidar com essa situação?
(*) Eduardo José Quaresma é engenheiro civil, professor universitário e inspetor chefe do Crea-MG Inspetoria de João Monlevade