Em tempos de segundo turno, quando não resta mais que duas opções de voto, é visível o confronto entre os candidatos, bem como, a divisão do público eleitor em espectros políticos opostos. A disputa entre candidatos, a crítica ao candidato oponente, bem como, a preferência do eleitor são elementos comuns em qualquer eleição. O que vem diferenciando as eleições presidenciais de uns anos para cá, é a sua polarização.
Polarização é um fenômeno que ocorre quando dois grupos diversos se atêm às suas próprias convicções e se fecham para qualquer espécie de diálogo. Numa eleição, ela ocorre quando dois grupos políticos oponentes tornam-se rivais, fazendo com que o eleitor leve para as ruas e para as urnas a rivalidade e o radicalismo de ideias.
O maior problema é quando adversários políticos se tornam inimigos e o debate, que faz parte da boa política, sai de cena para a entrada da intolerância, das ofensas pessoais e de outras formas de violência. Não é assim que se faz política. O ser humano é um animal político por natureza, ideia concebida por Aristóteles, ainda na Grécia Antiga. Político no sentido de necessitar de viver em sociedade, compartilhando uma vida comunitária. Essa convivência precisa ser organizada através de regras próprias, de maneira a permitir que cada indivíduo consiga conviver com o outro, com suas diferenças, sem que se estabeleça o caos social.
Portanto, a política se dá através do diálogo, da tolerância, do respeito às regras do jogo. A melhor forma concebida para que a vontade da maioria seja válida e reconhecida se dá através da democracia. Nela, o povo escolhe seus representantes, através de eleições livres.
A polarização da política é em si contraditória, porque a concepção de política exige diálogo, troca de ideias e, acima de tudo, respeito à escolha do outro. O fenômeno da polarização não é brasileiro, tampouco comum apenas em época de eleições. A era digital mudou a forma de comunicação em massa. Hoje, as redes sociais e aplicativos de mensagens instantâneas permitem que cada cidadão selecione visualizar somente o que lhe convém, ou seja, o que já vem de encontro com suas ideias pré-concebidas.
Visando fidelizar o usuário consumidor, os engenheiros do mundo cibernético, através de seus algoritmos, filtram as informações para cada usuário, de maneira a abastecê-lo somente com informações que tendem agradá-lo. Criam assim uma espécie de bolha para cada usuário, colocando-o em contato com opiniões, noticias, vídeos e memes que reforçam suas crenças. Isso faz com que o indivíduo desaprenda a escutar opiniões contrárias à sua, tornando-o intolerante ao diferente.
Em razão disso, a polarização surge com mais vigor a cada eleição, dando margem à propagação das fake news e outras matizes de violência. Se a política surgiu para evitar o caos social, a polarização cada vez mais leva a sociedade rumo a esse caos.
Por isso, a polarização é perniciosa e contamina os pilares da democracia, que precisa do diálogo e do respeito à opinião do outro para sobreviver. É preciso resgatar a importância do voto, não pelo temor da escolha alheia, mas por acreditar no poder de sua escolha.
Para isso, precisamos conhecer melhor a proposta de governo de cada candidato para escolher qual delas vai mais de encontro com nossas convicções. A campanha serve para propor ideias e não para combater o adversário. Até porque, as promessas de campanha precisam ser cobradas nos quatro anos de mandato do candidato vencedor. Palanque não é ringue, política não é briga. É diálogo, é escolha e respeito, seja a quem ganha, seja a quem perde. Só o respeito garante que a vitória seja do povo!
(*) Hortência Carvalho é chefe do Cartório Eleitoral. Instagram: @hortenciacarvalho2009