Aprendi que falar de dores e tentar desvendar misterios, é tentar encontrar culpados e se culpar por não os encontrar! É descobrir que ainda nos falta a coragem necessária para assumir que a maioria das nossas dores advêm dos nossos próprios erros. O que importa conseguir perdoar as pessoas que nos magoaram, nos traíram, nos ultrajaram, pior, nos abandonaram num momento de vida ou morte, se não conseguimos perdoar a nós mesmos.
É como alimentar as dores dia após dia dentro do peito. É como contemplar a beleza dos ypes de cores diversas retumbando em nossas írises e não as perceber.
Ao conversar com Deus, num quarto escuro, de joelhos, humilhamo-nos diante dele! O perdão vem do alto. É assim que nos sentimos irremediavelmente perdoados.
Todos os que amavam, se afastaram, mas tu leitor (que tomo a liberdade de chamá-lo de amigo) foi se afastando deles com atitudes e comportamentos intragáveis. Sem perceber, ao ligar para um ente querido você passou a ouvir mensagens computadorizadas: “esse número se encontra indisponível ou fora da área de cobertura”. Neste momento, você percebe que ouviu o mesmo no ano passado.
E assim, cada vez mais só e tristes, nossa vida se reflete na barba por fazer, no corte de cabelos, nos olhos vazios, nas roupas reviradas dentro do guarda-roupas. Chegamos até a pensar que não vale a pena viver. Tudo mudou. Os almoços em família, os exercícios nos parques públicos, os aniversários que eram comemorados...
De repente, levamos as mãos ao bolso, com o coração apertado: teclamos o número da mãe! Esse número se encontra indisponível ou fora da área de cobertura e à medida que vamos teclando para os contatos dos irmãos e amigos, ouvimos a mesma mensagem... O tempo passou e nós não temos mais aquelas pessoas que um dia tanto amamos. Nós as perdemos por pura vaidade. E a vida continua, mas as dores ficam nas almas. Apesar de não querer falar mais delas, todos as sentimos. Afinal, somos humanos.
Por isso, ao dobrar a esquina num dia qualquer, abro um largo sorriso e saio distribuindo cumprimentos, descartando as expectativas de tê-los de volta na mesma intensidade. Aí reflito: quando me deparo com pessoas carrancudas e cabisbaixas, alheias a um simples “bom dia”, talvez elas ainda não tenham perdoado a si mesmas. Sigo em frente com minhas dores, mas distribuindo sorrisos sempre!
(*) Elias Lourenço é monlevadense e funcionário público