Percebo que muitos lamentam o fechamento da Livraria Cultura. Também lastimo, mas tenho outros motivos. Ninguém comenta, talvez por não saber, sobre o tratamento que a maioria dessas grandes empresas dispensam aos seus funcionários e a relação com as leis trabalhistas.
Ninguém comenta também sobre a discrepante relação entre as grandes livrarias e as editoras menores. É praticamente impossível ver livros de autores dessas nas vitrines das grandes lojas. Em destaque, só há espaço para os famosos. Para as pequenas editoras, o livro pode até ser ótimo, o autor competente, mas se ele ainda não é famoso, terá muitas dificuldades. Quando muito, seu livro ficará lá no fundo, por trás de todas as estantes. E o que não aparece, não vende.
Mesmo que a pequena editora, além de todo o trabalho de análise, revisão, editoração, impressão e divulgação, fique com uma porcentagem mínima da venda, gigantes como a Cultura arrecadam mais da metade do preço de capa. Sem contar que foi a pequena editora que teve que levar os livros até a livraria e depois buscá-los, quando não são vendidos. É a tal da consignação.
Você sabia que o autor, que teve o esforço intelectual, a inspiração e incontáveis dias e noites para escrever o livro, ganha só 10% do preço de capa? E que, só depois de vender muitos exemplares é que ele e a editora têm um pequeno lucro? Quem lucra mesmo é a grande livraria.
Aqui, estou falando de editoras de verdade que recebem os originais, analisam, aprovam e preparam o livro antes de publicá-lo e depois continuam divulgando e vendendo para o público. E não de gráficas que se proclamam editoras e só imprimem sem qualquer critério e depositam na casa do autor para que ele mesmo distribua seus livros. A relação decente entre as livrarias grandes e as editoras pequenas praticamente nunca existiu.
É muito fácil sentir pena dos empresários da Livraria Cultura. Os donos das grandes empresas, quando decretam falência, continuam milionários e lucrando com seus outros grandes negócios. E os funcionários demitidos, às vezes, nem recebem os seus direitos.
As editoras pequenas e os seus autores sempre se viraram para publicar e vender como podem, nas parcerias com as pequenas livrarias, nos saraus, nos lançamentos, nas feiras culturais, etc. Esta parceria sim, é decente, é honesta. Envio um abraço à minha amiga Jaqueline Silvério, que há décadas mantém a Livraria República Literária em João Monlevade, vendendo e divulgando livros de autores não tão famosos e fazendo a diferença na vida dos leitores da cidade e da região.
(*) Remisson Aniceto é escritor novaerense