Tomo emprestado o título do emblemático poema 'E agora, José', do grande Carlos Drummond de Andrade, para questionamentos: No mês de março em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, o que foi feito? O que ainda precisa ser feito?
Neste ano, várias entidades se reuniram em prol de ações para a mulher monlevadense. A Prefeitura, através da Fundação Casa de Cultura, a Associação Mulheres em Ação de João Monlevade (AMA), o Conselho dos Direitos da Mulher Monlevadense (Codemm), a Procuradoria da Mulher, a 75ª Subseção da OAB/MG e a Acimon Mulher envidaram esforços para proporcionar conhecimento, informação, bem-estar, lazer e cultura para todas nós.
Com o propósito de abranger o maior número de mulheres de vários pontos de João Monlevade, as entidades promoveram o Momento Mulher na Escola Monteiro Lobato, no dia 11 de março, levando oficinas diversas, buscando o empoderamento feminino. As mesmas oficinas foram replicadas no Núcleo da Fundação Crê-Ser do bairro Santa Cruz no dia 14.
Amanhã (25), será realizada a 2ª edição do Ninguém Segura Essa Mulher, com aquecimento com aula de dança, caminhada, circuito de bicicleta e corrida. O encerramento do Mês da Mulher terá shows culturais na Praça do Povo. As atividades foram pensadas para valorizar, capacitar, empoderar e levar bem estar físico e mental para as mulheres monlevadenses.
Para além dessas iniciativas, a AMA ainda ministrou palestras nas escolas Manoel Loureiro e Luiz Prisco de Braga, bem como na Colônia Luíza de Marilac e Clínica Lótus para conscientização e enfrentamento a violência contra a mulher.
Todas as ações são de extrema importância para destacar o papel da mulher na sociedade. Importante lembrar que a data surgiu no início do século XX, no contexto da luta da mulher por igualdade de condições de vida e de trabalho.
Inúmeras foram as conquistas desde então, como o direito a votar e ser votada, a ocupar espaços públicos e exercer atividades para além das do lar, mas as condições de igualdade nas tomadas de decisões, nos salários, na segurança, na vida e no trabalho ainda são objetos de muita luta e precisam continuar sendo discutidas. Sem falar que faltam políticas públicas a serem implementadas.
A Consolidação das Leis Trabalhistas – CLT prevê que “Sendo idêntica a função, a todo trabalho de igual valor prestado ao mesmo empregador, na mesma localidade, corresponderá igual salário, sem distinção de sexo, nacionalidade ou idade.” Contudo, essa não é a realidade do mercado laboral. Justamente no dia 08 de março, Dia Internacional da Mulher, o site do Tribunal Superior do Trabalho trouxe a seguinte matéria: “Desigualdade salarial entre homens e mulheres evidencia discriminação de gênero no mercado”. E ainda trouxe a legenda “Em cargos de gerência e direção, elas são mais penalizadas pela falta de isonomia salarial, mas a prática é vedada pela legislação”.
Segundo o texto, o rendimento das mulheres representa, em média, 77,7% do rendimento dos homens, ou seja, as mulheres recebem 22,3% a menos que os homens, no exercício da mesma função. O desemprego também afeta mais as mulheres, com taxa de 14,1% para elas, enquanto a dos homens é 9,6%.
Por outro lado, são as mulheres que dedicam mais tempo a trabalhos domésticos, num total de 21,4 horas semanais, enquanto os homens destinam 11 horas por semana para essas atividades. Segundo relatório do Fórum Econômico Mundial, a igualdade de gênero em locais de trabalho em todo o mundo levará mais de 200 anos para ser alcançada. 200 anos!
Em contrapartida, segundo IBGE, mulheres com ensino superior constituem mais de 58% e no quadro de mestres, 56% são mulheres. As mulheres avançaram no nível de educação, mas ainda percebem remuneração menor que a dos homens.
Nesta semana, ainda, fomos alertados pelo número de denúncias de agressões sofridas pelas mulheres. Segundo este semanário, em 48 horas, três mulheres denunciaram ameaças ou agressões em João Monlevade no fim de semana do dia 18 de março.
O que nos mostra que, mais que um mês de valorização e homenagem, março é um mês de Luta! Homenagem a todas as mulheres que lutaram para que hoje pudéssemos ocupar os espaços que ocupamos e para todas àquelas que lutam por uma sociedade mais igualitária e segura. Seguimos!
(*) Elivânia Felícia Braz é advogada e presidente da AMA - Associação Mulheres em Ação de João Monlevade