O que os governantes monlevadenses têm em comum com o Rei Midas? A história nos apresenta Midas como um personagem mitológico, que foi rei da Frigia (atual Turquia). Enquanto o Midas tornava ouro tudo aquilo que tocava, em João Monlevade, nossos governantes fazem o contrário: destroem tudo o que tocam. Com o perdão da palavra, transformam “ouro” em “merda”.
Uma prova cabal disso foi o recente Tombamento da Escola Estadual Santana, situada no bairro Centro Industrial. O Decreto de nº 197/2022 em conformidade com a Lei Orgânica do Município e com a Lei no 1622/2005 estabeleceu que o município deve promover a proteção, preservação e defesa do patrimônio histórico-cultural local, observada a legislação e a ação fiscalizadora federal e estadual, seguindo a Constituição Federal. E como está o importante prédio histórico? Abandonado e depredado.
Outro exemplo é o antigo Terminal Rodoviário, marcado pela transposição dos grandes espaços internos para o exterior tornando-o convidativo e despojado. Uma obra moderna para a época. O projeto é de autoria de um dos mais reconhecidos arquitetos no Brasil, o húngaro István Farkasvölgyi e Fernando Coelho. Hoje, é apenas um escombro do Hospital Fantasma Santa Madalena onde foram enterrados mais de R$25 milhões em desperdícios do dinheiro público.
O Pronto Atendimento (PA) que se localizava onde hoje funciona a sede da Polícia Militar foi para “os escombros da rodoviária” até virar cinzas no Margarida.
Até mesmo “ideias e projetos” que são implementados em vários municípios do nosso país viraram “merda” em nossa querida cidade. Por aqui foi registrado o Valor Global de R$836.827,42 como “despesa empenhada referente ao subsídio financeiro ao serviço público de Transporte Coletivo, em função do sistema de Tarifa Zero nas linhas sociais”. Os recursos foram repassados para a concessionária a título de remuneração das linhas 42 e 43 do famigerado “tarifa zero pirata”.
A título de comparação: o município de Ibirité, na região metropolitana de BH, paga cerca de R$800 mil mensais para 22 ônibus que circulam mais de 150 mil km mês e transportam cerca de 5.600 passageiros diários. O mesmo ocorre com Caeté para o atendimento de toda a população em todas as linhas de ônibus.
Por fim, há ainda aqueles que tentam justificar o “toque de Midas às avessas dos nossos administradores” quando vão tratar da saúde pública. Dizem que a “culpa é dos municípios vizinhos”, mas omitem sobre a Programação Pactuada Integrada (PPI) do Governo Federal.
Segundo esses dados, João Monlevade recebe repasses anuais para o atendimento das demandas de “Média Complexidade” de várias cidades da região, sendo: de Santa Bárbara (R$5.116,65); de Barão de Cocais (R$8,77); de São Gonçalo do Rio Abaixo (R$17.933,43); de São Domingos do Prata (R$367.843,84); de Rio Piracicaba (R$436.316,38) e de Bela Vista de Minas (R$526.507,89). A soma chega ao total anual de R$1.353.726,96 + SADT que é uma modalidade de prestação de serviço ofertada nas unidades de saúde e responsável pela realização de exames complementares das linhas de cuidado da atenção básica e da atenção especializada.
Será que Monlevade está entregando de forma satisfatória o que esses municípios têm pagado sob a forma da PPI? Se formos levantar todas as ruínas que resultam dos “Midas monlevadenses”, teremos que escrever vários artigos...
A nossa esperança é que o município assuma de fato a administração pública e suas responsabilidades, deixando de ser apenas um repassador de recursos para a concessionária do transporte público coletivo e para o Hospital Margarida. Precisamos de um projeto de cidade, um projeto a curto e médio prazo para sairmos da condição do toque de Midas às Avessas.
(*) Elizeu Assis é doutor em História, mestre em Ciências, psicólogo e professor