Desde 1984
Wagner Ragi Curi Filho
11 de Agosto de 2023
Os desafios da gestão pública

“Colocar-se no lugar do outro”. “Buscar compreender um fenômeno com o olhar do outro”. Tais frases são comuns e, fatalmente, já ouvimos algo parecido em algum momento da nossa vida. A questão é, se conseguimos fazer o exercício de enxergar uma situação sob a perspectiva do outro. Imagine se esse outro é um trabalhador de um órgão público. Quantas vezes reclamamos da ineficiência desses setores? É compreensível essa percepção geral em um país que, sabidamente, não provém todos os serviços públicos com a qualidade necessária e que desejamos. 
Diante dessa insatisfação, é comum achar que a gestão pública é realizada por pessoas desinteressadas ou ineficientes. Convido então você a se colocar no lugar daquele que trabalha na gestão pública. Será mesmo que estão todos desinteressados? Assim como organizações privadas, fatalmente haverá servidores públicos que não se dedicam, mas afirmo, está longe de ser a maioria. Em treze anos trabalhando como professor de uma Universidade Pública vi muitos dos meus colegas docentes e servidores técnicos-administrativos se desdobrando, comumente trabalhando em funções que não as suas, para que a Universidade funcionasse. 
Tenho certeza que, assim como na Universidade na qual trabalho, há trabalhadores e trabalhadoras nos postos de saúde, nos hospitais, nas escolas de educação básica, em secretarias municipais dentre outros órgãos públicos, buscando fazer seu trabalho da melhor maneira possível, ora obtendo êxito, ora não. Não conseguir êxito pode frustrar um trabalhador do serviço público tanto quanto de qualquer outra organização. 
Por vezes, nem lembro mais quantas, me senti assim na Universidade. Essa perspectiva é comum em servidores que buscam realizar seu trabalho de forma eficaz. O setor público possui muitos sistemas de controle e legislações que não existem em organizações privadas e que demandam atenção dos trabalhadores. Realizar o trabalho sem violar regras é uma constante preocupação para aquele que está na gestão pública. 
Ao mesmo tempo, para além da legalidade, a demanda por expansão e por melhoria da qualidade, em um cenário de recursos cada vez mais escassos, traz desafios das mais variadas naturezas para a gestão pública. No contexto da Universidade Federal de Ouro Preto – Campus João Monlevade, meu lugar de fala como docente, os desafios de gestão passam por compatibilizar a demanda por expandir os cursos de graduação e pós-graduação da Universidade, gestar os recursos físicos e implementar a curricularização da extensão universitária. 
Esse último exemplifica bem os desafios da gestão pública. Em 2018, o Ministério da Educação publicou uma Resolução que determinou que todos os cursos de graduação fizessem com que todos os seus estudantes atuassem em ações de extensão. Sabemos que é muito importante que a Universidade se aproxime cada vez mais da comunidade e que ações de extensão são uma das principais maneiras de se fazer isso. Todavia, não se executa projetos sem recursos, sem treinamentos específicos e sem planejamento. 
Embora, já há alguns anos, a comunidade da Ufop esteja tentando aumentar as ações de extensão na cidade de João Monlevade, os recursos são praticamente os mesmos de antes da regulamentação de 2018. Portanto, estamos buscando e continuaremos a envidar esforços para que a gestão seja eficaz e as demandas sejam atendidas, mesmos com as dificuldades latentes. Trabalho e empenho não faltarão! Assim, convido todos e todas a exercerem uma democracia plena para que a gestão pública seja mais próxima daquela que desejamos! 

 

 

(*) Wagner Ragi Curi Filho é diretor do Instituto de Ciências Exatas e Aplicadas da UFOP

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