Os mineiros em geral têm em sua cultura o hábito de trabalhar calado. Trabalhamos tanto em silêncio que, mesmo diante de conquistas importantes, comemoramos de forma contida, até acanhada. 'Ninguém atrapalha aquilo que não conhece. Boca de siri', ensinaram nossos avós e pais. Herança de um colonialismo mesclado a mais de 300 anos de escravidão. Quem sabe o que significa santo do pau oco entende o que digo.
Deixando de lado o revisionismo histórico, voltando ao agora, Monlevade precisa parar de esconder o ouro, de trabalhar em silêncio para começar a ser vendida. Vendida a investidores, a quem comprar a ideia de se instalar em uma cidade próspera, segura e cheia de potenciais não desenvolvidos.
E para essa venda, é fundamental que o município crie e estruture uma Secretaria de Desenvolvimento Econômico. Passou da hora. Além disso, que forneça todas as condições para o bom funcionamento e atuação da pasta, com local adequado e equipe capacitada para o setor funcionar. Um dos principais propósitos da Secretaria é promover o que a cidade tem de melhor e que possa ser revertido em negócios e capital econômico. É preciso pensar que esse setor é quem vai atrair recursos e mais riqueza para a cidade.
Numa comparação, grosso modo, o secretário de Desenvolvimento funciona como um diretor comercial de uma empresa. É aquele que promove as vendas. Sem ele, não há empreendimento que sobreviva. Ele é quem prospecta possíveis clientes, faz visitas, efetua a venda e leva dinheiro para o caixa. O secretário de Desenvolvimento Econômico precisa fazer o mesmo para o município.
Por que alguém abriria uma empresa em Monlevade? Quais são as vantagens competitivas de se instalar aqui? O que pode ser oferecido a quem queira prosperar na cidade? As respostas para essas perguntas devem estar não só na ponta da língua do futuro secretário de Desenvolvimento Econômico, mas também na do prefeito, servidores da Prefeitura, da Câmara de vereadores e de toda a população.
Em comunicação, costumamos dizer que é um mito acreditar que “produto bom se vende sozinho”. É lenda. Mesmo que o produto seja ótimo, é preciso ações estratégicas, aliadas a bom marketing. Especialistas apontam que atrair novos investimentos pode acontecer com a criação de um sistema produtivo integrado, especialização da economia local em algum setor ou produto e, se possível, respeitando a vocação econômica do município. Pense: se somos a “Capital Mundial do Fio Máquina” e um dos berços da siderurgia nacional, precisamos atrair empresas dessa área para somar com os aços longos da ArcelorMittal Monlevade e toda a cadeia já existente. O que falta para isso?
A Associação Comercial, Industrial e Prestação de Serviços (Acimon), há anos, defende a criação da Secretaria de Desenvolvimento Econômico e de um Conselho Municipal de Desenvolvimento Econômico deliberativo. A mesma ideia tem o Comitê Permanente de Desenvolvimento (CP10). O governo Laércio Ribeiro (PT) é um dos primeiros a ser simpático e apoiar essa ideia. Só falta mesmo, tirá-la do papel e dar a devida estrutura e suporte para a nova Secretaria funcionar. E o mais importante: que o secretário seja escolhido por sua competência, não por afilhadismo político e que sua equipe seja capaz de gerar projetos de real impacto positivo na economia. Monlevade precisa saber se vender, contribuir para o desenvolvimento, para a inovação e promover novas oportunidades de geração de emprego e renda.
(*) Erivelton Braz é editor do A Notícia e fundador da Rotha Assessoria em Comunicação