Morar na comunidade do bairro Santa Cruz, apesar dos problemas, é algo tranquilo...ou pelo menos seria, se por tantos anos não tivéssemos sido vítimas de descasos, se não tivéssemos nos acostumado a cansar de lutar esperando as autoridades olharem por nós. Estávamos invisíveis! E percebemos que era cômodo essa invisibilidade. Afinal, a invisibilidade incomoda apenas a minoria até então quase “insignificante”.
Até que o bairro acordou! Através da Associação de Moradores (e mesmo com pessoas que lutaram antes), o nosso propósito por visibilidade está cada vez maior e mais forte. Hoje, sabemos da nossa importância e, é com esse saber, que buscamos fortalecer parcerias necessárias.
Cada vez mais, notamos o crescimento da cultura da colaboração e da união. A busca pelo empoderamento coletivo e pelo fortalecimento do grupo faz com que essa atitude se difunda na comunidade. Nessa lógica, acreditamos que a ArcelorMittal, empresa vizinha de nosso bairro, deva atuar como parceira para as soluções das mais diversas demandas.
Muitas pessoas nos perguntaram por que achamos que a Arcelor deveria ajudar a cuidar do bairro Santa Cruz. A resposta é: os bairros mais impactados, além de serem os mais antigos, com um peso enorme na história da cidade são: Pedreira, Tietê, Jacuí e Santa Cruz, vizinhos da Usina.
A ArcelorMittal disponibilizou, pelo segundo ano, um curso de bordados, que trouxe muita alegria para mulheres daqui. Em nome da comunidade, levei esse assunto a uma auditoria da qual participei com a empresa. Falei das dificuldades dos moradores de participarem de eventos culturais promovidos por ela devido à distância, no centro da cidade.
A comunidade reivindicou e a empresa ouviu e esse é só o começo. Todos nós moradores crescemos em um ambiente com muita vegetação. Mas se observou que a natureza não era prioridade por aqui. As folhas daqui têm um verde escuro de tanta poeira. Poeira essa que nos traz doenças respiratórias.
Somos parte do Centro Industrial, que são os bairros mais atingidos pelos impactos causados pela empresa. Reitero que a Usina é fortemente necessária, que traz emprego e crescimento para toda a região. Mas aguentamos os impactos maiores e somos os menos beneficiados.
Por isso buscamos o diálogo com a ArcelorMittal, que respeitamos pela grande importância que tem. Mas sem deixar de mostrar a enorme importância que temos também. Somos pessoas que sonham e que devem ser cuidadas. O meio ambiente por aqui, não tinha um programa de sustentabilidade. Pois agora terá. A Arcelor, depois de reuniões com a comunidade e a pedido da Associação do Bairro, prepara uma programação ambiental.
Esperamos que a Prefeitura também entenda e se una à siderúrgica para resolver problemas tão antigos. Por esses diálogos constantes, feitos com muito carinho e atenção com a comunidade, parabenizamos a ArcelorMittal. Agradecemos por essa nova fase de parceria humanizada, que só está começando.
Deixo um recado a todo Centro Industrial: está na hora de, com muita sabedoria e diálogos trazer pra todos nós, respeito, apoio e bem-estar. Vamos nos unir! A comunidade do Santa Cruz é e sempre foi forte, formada por pessoas guerreiras. Todo guerreiro já adormeceu porque se cansou. Mas sempre volta a seu posto de combate. Voltamos. E guardem o nome dessa comunidade, que fará história! Com amor, Associação do Bairro Santa Cruz.
(*) Alexsandra Mara Felipe Fernandes é integrante da Associação do Bairro Santa Cruz e da Associação Monlevadense de Afrodescendentes