Não consigo entender o porquê de a Feira da Economia Popular Solidária incomodar tanto alguns empresários: um do ramo de supermercados e outro do ramo de materiais de construção. Onde tem que ser a feira? Para a minha pessoa, a feira tem que ser na rua.
A feira gera renda e trabalho para os feirantes e para as pessoas que trabalham para a sua realização. O dinheiro circula na cidade, fica na cidade. São famílias que tiram seu sustento da feira. Somos um movimento de construção, que possibilita a organização das pessoas para que possam gerar trabalho e renda, como uma forma de combater a pobreza.
Além disso, quem coordena a feira é uma entidade sem fins lucrativos, a Solidariarte. A principal organizadora completa seus 22 anos de atuação, com atuação forte no município, trazendo a semente da esperança e nos mostrando que é possível um outro caminho, no viés da solidariedade e da sustentabilidade do ser humano com a natureza, como preconiza o Papa Francisco. A solidariedade é sem dúvida uma grande potencializadora da emancipação financeira por meio da economia solidária e da esperança.
O desafio é grande, e boa parte dos empreendimentos é formado por mulheres e homens que erguem as barracas, sendo uma maior parcela formada por mulheres e seus sonhos, numa construção coletiva. Tecem projetos, costuram redes de idéias e mostram que é possível um outro caminho, no viés da solidariedade e da sustentabilidade do ser humano com a natureza.
Outro ponto fortíssimo: a feira está inserida na Arte e Cultura, tem o poder de transformar vidas. A cultura e arte podem tirar uma pessoa do vício, impedindo-a de cair na criminalidade. Ela pode reverter este cenário, trazendo novos rumos, novos sentidos para as pessoas. Traz sensibilidade, felicidade e acalento para a vida de muitas pessoas que precisam. É um alívio para as dores do corpo e da alma, mudando e transformando, trazendo um novo olhar, um novo rumo, uma esperança de que as coisas podem ser diferentes, estimulando a criatividade, a disciplina, solidariedade, moldando o caráter, uma aliada para a educação de nossas crianças.
Nós passamos por muitas dificuldades e superamos todos os desafios que foram surgindo no decorrer dos anos. Foram muitos nestes 10 anos. Hoje estamos onde queremos estar, mas infelizmente, temos algumas pessoas contrárias. Na rua, dizem, ela atrapalha o trânsito, mas há muitas ruas como alternativas para o seu deslocamento. Temos alguns vereadores que deveriam nos ajudar a encontrar soluções para as nossas dificuldades, mas muito pelo contrário. Ficam fazendo ofícios para a nossa saída, vêm à feira procurar irregularidades, fotografar e pedir a nossa saída. Por que não nos mostram onde está o erro e nos ajudam a solucionar? Precisamos de ajuda, de pessoas que nos ajudem a crescer e melhorar a cada dia e não de julgamentos e dedos sendo apontados e sim de soluções.
Somos um grupo sempre aberto ao diálogo.
Uma outra dúvida: por que todas as cidades têm feiras nas ruas? Em Belo Horizonte, temos uma das maiores feiras, que é realizada na avenida Afonso Pena, a Feira Hippie. Por que João Monlevade não pode ter uma feira na rua? Por que incomodamos tanto? Onde tem que ser a feira? A opinião de um pequeno grupo de empresários, que acredita que manda na cidade, é mais importante que um espaço onde realizamos sonhos, cultura, arte, e acima de tudo, geração de renda e trabalho? Ou por que somos pobres, desfavorecidos, desvalidos, necessitados?
Com isso, peço o seu apoio: vem para a feira, vem para a rua. Venho a você, cidadão de bem, pedir sua valiosa ajuda. Vem para a Feira, vem para a rua.
(*) Elaine Andrade é presidente da Solidariarte