Na madrugada do último sábado (21) na capital paulista, fui acometido a uma emergência médica que me fez encarar de perto a complexidade do sistema de saúde brasileiro numa grande cidade. Compartilho minha experiência, destacando as nuances do Sistema Único de Saúde (SUS).
Em meio a uma crise de cálculo renal, a falta de uma ambulância do Samu me obrigou a recorrer a um táxi para chegar do hotel ao hospital mais próximo, a Santa Casa de Misericórdia. No entanto, ao chegar ao Pronto Socorro, deparei-me com uma realidade desafiadora. Minha agonia era intensa, mas o sistema estava claramente sobrecarregado, e os pacientes relatavam esperas que se estendiam por mais de três horas. Além disso, o estado das instalações do pronto-socorro deixava muito a desejar, um reflexo dos desafios enfrentados pela coisa pública no Brasil.
Desesperado, busquei auxílio no hospital vizinho, o Santa Isabel, que faz parte da Santa Casa, aproveitando o meu plano de saúde. A diferença foi notável. O atendimento foi ágil e eficaz, ressaltando o papel essencial de um plano de saúde em situações críticas. No entanto, essa jornada também me fez refletir sobre a disparidade no sistema de saúde entre regiões e a importância de valorizar o SUS.
Comparando a minha experiência em São Paulo com a atenção recebida no SUS em João Monlevade, mais especificamente no Hospital Margarida, percebo diferenças significativas. Em Minas Gerais, o atendimento sempre foi eficaz, e a humanidade dos profissionais de saúde é muito mais evidente. A comparação fica clara quando lembro que, em São Paulo, gritei de dor enquanto esperava mais de meia hora por medicação endovenosa, enquanto em Monlevade, o alívio da dor chegou em questão de minutos.
De volta a Minas Gerais, na segunda-feira desta semana e com encaminhamento urgente para meu possível procedimento cirúrgico, procurei atendimento local que me direcionou ao Hospital Margarida para encontrar com um urologista. O pronto-socorro estava lotado e muitos pacientes demonstravam impaciência devido às demoras nos atendimentos. Contudo, ficou claro que a maioria não necessitava de cuidados de urgência e emergência, mas sim, de consultas de atenção primária.
Uma das lições que aprendi e ensinei durante meu tempo como professor nos cursos de Fisioterapia e Biomedicina é a gestão do SUS. Reconheço que o sistema é uma conquista admirável, servindo de exemplo para muitos países. No entanto, dois problemas críticos persistem: uma gestão problemática, que se estende desde o Ministério da Saúde até os níveis estaduais e municipais, e o uso inadequado por parte da população, que muitas vezes não compreende a distinção entre atenção primária, secundária e terciária.
A atenção primária ocorre nos postos de saúde e serve como a porta de entrada para o sistema. É voltada para necessidades gerais, como consultas de rotina, vacinação e tratamentos preventivos. A atenção secundária, por sua vez, envolve cuidados especializados, enquanto a atenção terciária se destina a casos complexos e demandas urgentes que requerem serviços hospitalares avançados de urgência e emergência, incluindo cirurgias. Quando o Pronto Socorro de um hospital fica abarrotado de pacientes de atenção primária e secundária, isso sinaliza problemas de gerenciamento no SUS.
Minha experiência me conduz a uma conclusão clara: apesar dos desafios enfrentados, nosso Sistema Único de Saúde é uma conquista notável, muitas vezes subestimada e mal compreendida pela população. E o atendimento de João Monlevade é muito bom. Tem problemas, tem! Mas nada comparado ao caótico sistema de grandes cidades. Por isso, penso que devemos lembrar a importância do nosso dever de proteger e valorizar o SUS, cobrando dos agentes públicos uma gestão mais eficaz, além de usá-lo com mais consciência. Em tempos de incerteza na saúde, pois acabamos de sair de uma pandemia e com risco de vivenciar outras, a defesa do SUS torna-se mais vital do que nunca. Que cada um faça a sua parte. E muita saúde para todos nós.
(*) Breno Eustáquio é professor universitário, doutor em educação