Além das questões que envolvem Zumbi e o Quilombo dos Palmares, o Dia da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro, é uma data significativa, pois traz à luz questões importantes: o racismo e a desigualdade da sociedade brasileira. É dia de relembrar a luta dos africanos escravizados e que reforça a importância da realização de novas lutas para tornar a nossa sociedade mais justa. Ainda hoje, o racismo é um dos grandes problemas do Brasil.
O Dia da Consciência Negra é importante para relembrarmos que a nossa sociedade foi construída por meio da escravidão. Por mais que melhorias e mudanças tenham acontecido, a falta de oportunidades para a população negra, o racismo presente no cotidiano e as tentativas de apagamento da cultura africana evidenciam que ainda temos um longo caminho a ser trilhado.
Mas não adianta somente um dia de feriado. O feriado tem que vir acompanhado de semanas e ações em escolas, sendo abordada a história, não apenas pelos professores, que algumas das vezes, na verdade, apenas cumprem o cronograma. Mas precisa que esses temas sejam abordados, também, por ativistas que dedicam a vida em acabar com esse mal que é o racismo.
Ainda há nas escolas muitos casos de racismo e nós, da Associação Monlevadense de Afrodescendentes (Amad), somos procurados por mães de adolescentes que já pensaram em suicídio por terem sofrido preconceitos. Porém, não nos foi dada a permissão de seguir por medo que a família sofresse alguma retaliação. Então perguntamos: De que serviria um feriado? Apenas para ficar em casa? Apenas para um dia de descanso? Pra que serviria um feriado se vamos continuar morrendo, se não no corpo, mas na alma? A sugestão é trazer junto ao feriado, manifestações, passeatas, rodas de conversa, as mídias apoiando em massa e, principalmente, recuperando a história, tanto em escolas quanto nas ruas.
O povo preto dificilmente tem apoio para as suas manifestações. Então, que esse feriado venha seguido de apoio para manifestações dignas de um povo bravo, lutador, que ajudou a construir essa cidade, que ajudou a construir o Brasil inteiro. Feriado sim! Mas feriado com apoio! Chega de deixar as coisas de preto sem amparo. Que a lei se cumpra! Não é favor, é reparação! Que o 20 de novembro seja maior do que o dia em que capoeiristas são chamados a irem a escolas, dia em que o samba é lembrado, que a feijoada, a canjica, o acarajé sejam citados e que os panos de chita servem de enfeites... Que comecem a saber que a feijoada não foi inventada pelos escravos, pois nem os ossos nossos antepassados tinham direito.
Que comecem a saber de verdade que a capoeira e o samba eram crimes e quem os praticasse eram chamados de bandidos. Que saibam que a nossa religião não é do demônio, e que o pano africano não é chita e sim um tecido que se chama Kapulana. Que a história de João Monlevade precisa ser contada sob o olhar do povo preto que a construiu, com sofrimento e não apenas o branco que veio de outro país.
Que parem de matar a nossa história. Que saibam que os pretos servem tanto para serviços menos valorizados quanto para serem profissionais de renome. Que esse feriado traga mais equidade.
A Amad apoia o feriado do dia 20 de novembro com acréscimo de amparo para manifestações diversas, pois não queremos favor de leis brancas. Queremos que entendam que a ação e informação é o que trarão mais conhecimento. E conhecimento é a arma que irá alertar muitos pretos de que a escravidão “acabou”, mas o sistema ainda insiste em nos escravizar e nos iludir. E só o povo conhecendo cada vez mais a sua história e seus direitos é que iremos disseminar esse racismo estrutural, que muitos acham que nosso povo não vê. Povo livre de verdade e não um povo que aceita migalhas. É esse nosso manifesto!
(*) Alexsandra Mara Felipe Fernandes é integrante da Associação Monlevadense de Afrodescendente