Um político de Monlevade, certa vez, me chamou de ingênuo. Falou que eu não botava maldade nas coisas. Eu perguntei a ele na hora: uai... a gente não tem de colocar é bondade nas coisas? Que mundo doido é esse que a gente tem de colocar maldade. Claro que ele dizia: respeito a você, sempre levar em consideração que existe uma segunda intenção, interesses ocultos e sacanagem por trás de tudo. Ele estava certo. Existe sim, uma competitividade mordaz, que não enxerga amizade, boas intenções. Só o pragmatismo das vantagens pessoais e dos grupos encastelados no poder.
Faço essa introdução para retornar a um assunto a que estou sempre voltando. O ABSURDO da 381. E fico pensando: onde está a maldade? Ou será que só existe maldade na condução que nossas autoridades dão à BR 381? Tenho um amigo que tem uma teoria. Que não fazem nada porque tem muita gente que lucra com a rodovia do jeito que está. Mas quem lucra? As funerárias? Empresas de guincho? Hospitais? Não consigo entender...
Fico vendo as notícias divulgadas. Vejo o governo federal fazendo propaganda, falando que finalmente a 381 vai ser licitada e coisa e tal. Mas não vejo ninguém falando sobre atacar o problema principal que é o trecho entre João Monlevade e Belo Horizonte. Dizem que fica muito caro. Uai, mas porque fica caro, então não vão fazer? Tantas coisas caras são feitas. E nem tão importantes assim.
Mas parece que as autoridades não querem nem tocar no assunto... E sinceramente: a comunicação do Dnit é muito ruim, distante, institucional, não linka com a região mais afetada. Parece que nem existimos para eles. O que a gente ouve falar é que vai ter a licitação, que a empresa terá um ano para fazer mudanças e dar manutenção. Mas duplicação mesmo vai ficar para não sei quando. Mas as praças de pedágio, essas já vem sendo estudadas exaustivamente. Parece que o negócio é arrecadar. Salvar vidas, melhorar a vida dos usuários fica pra segundo plano.
O objetivo agora é garantir a lucratividade para empresa que vai administrar. Quanto as obras reclamadas por nós há décadas. Ah... daqui a pouco o povo para de reclamar. O povo aceita tudo. E não vou eximir os cidadãos de culpa também. O povo é pacato, se omite. Todos se comovem quando tem acidente grave, quando morrem crianças, quando tem sangue no asfalto. Mas a comoção dura 3 dias. Já foram centenas de audiências públicas, de planos mirabolantes, licitações fracassadas para esconder a incompetência dos nossos governos em prover a população do básico.
Dizem que o governo tem de se livrar de diversas coisas para se dedicar ao básico: saúde, educação e assistência social. Que eu saiba, a morte é o contrário da saúde. Digo isso com tristeza, mas não estou otimista. Quero muito ter boas notícias, escrever que, finalmente, a 381 se tornou a rodovia da vida. Mas por enquanto, só separar o dinheiro para pagar pedágio.
(*) Marcos Martino é alvinopolense, ativista cultural e compositor