O fim do ano chegou e, com ele, o mês mais festivo de todos. Dezembro, com seus 31 dias de pura demanda e ansiedade pelo novo, bateu à minha porta ainda em outubro. 'Toc toc! Posso entrar?”. Eu, voltando de mini-férias, me fiz de surda como quem, em um domingo de preguiça, não quisesse abrir a porta para a visita que aparece sem avisar.
Outubro passou e, com ele, seus compromissos. Assim aconteceu em novembro que, não diferente, tentou chamar minha atenção para o que viria a seguir. Mais uma vez, ignorei. Talvez pela aceleração natural que ocorre no segundo semestre e se intensifica na reta final. Ou pela falsa sensação de que tudo se ajeita. Não sei bem. Sei que me enganei ao não aceitar os sinais da “dezembrite'. Os sintomas estavam todos à minha frente e eu fiz de conta que não vi.
Antes que dezembro começasse, eu já estava totalmente contaminada. O dobrar da folhinha no calendário escancarava aquilo que a alegria do fim do ano às vezes esconde. Dezembro tem 31 dias, parece longo. Mas não é! E por não ser, cada dia parece precisar do dobro de horas. E como elas não se acumulam, o que muda é a intensidade. Meu Deus! Como 'dezembrar' tendo que dar conta de tanta coisa é intenso!
Vou te contar algo que ocorreu com uma intensidade inédita por aqui. Não sei se pelos efeitos da pandemia, aliado ao crescimento do meu filho, mas há tempos eu não pedia tanto pelo fim de um ano letivo. A reta final da turminha é de enlouquecer qualquer pai ou mãe participativo! Acho que eu não sentia isso desde que preparei o meu TCC, na faculdade de Jornalismo.
Dezembro é uma mistura de fim do ano com fim do mundo. Quem um dia compartilhou essa pérola de pensamento falou uma grande verdade. Tudo parece para ontem. Comprar presentes, ver a roupa daquele evento… E os eventos voltaram trazendo consigo uma chance extra de felicidade. E até a tentativa de ser feliz no final de ano requer um processo intenso! Confraternizar com quem faz sentido na vida da gente é para ontem! Ser feliz é para ontem!
Não sei se acontece com você, mas dezembro por aqui traz consigo uma sensação de dever cumprido, mesmo antes de todos estarem cumpridos. Entendeu? Só que, para que toda a recompensa esteja esperando no final da linha, tudo precisa ter sido feito, não é verdade? E quando não está tudo feito? Nem sempre conseguimos cuidar de todas as áreas da nossa vida igualmente. Aprendi com o tempo que equilíbrio não existe e que para dar conta de segurar uma ponta, outra talvez fique mais solta. Até você segurar a que estava solta e lá se foi a outra. Tipo colocar lençol de elástico muito justo, sabe?
Hoje, na última edição do ano, eu vim mesmo me solidarizar com você que ainda não conseguiu descansar. Talvez você já tenha se confraternizado com alguém. Talvez não. Ou tenha conseguido comprar os presentes dos seus filhos e até tenha planos para o Natal e Ano Novo. Ou não. Por aqui, tenho procurado ver beleza no caos e, mais importante, aprender com ele.
Em dezembro de 2020 eu chorei por não poder passar o Natal com a minha família por conta da Covid-19. Hoje, a única certeza que eu tenho é que eu posso até ter “dezembrado” e colocado mais coisas no meu calendário do que suportariam as 24 horas que cada dia possui, mas eu estarei lá. Inteira, ainda que cansada, para sentir o cheiro da comida da minha avó, dar gargalhadas e ver a alegria do meu filho ao abrir os presentes que, por um triz, quase não foram comprados. Quase! Foi por um dezembro, viu?
Boas Festas e até janeiro!
(*) Débora Guimarães é jornalista e fotógrafa. Apaixonada por criar, guardar e compartilhar memórias, pois acredita que toda memória importa!.