O município de Timon, no interior do Maranhão, faz divisa com a capital do Piauí, Teresina. Basta cruzar a Ponte da Amizade, sobre o rio Parnaíba, para ir de um estado a outro. Estive nas duas cidades, no último fim de semana, acompanhando meu Tio Inácio, em visita a seus sobrinhos, em nova viagem ao Nordeste.
Digo nova, porque em 2019, realizei um sonho de criança: levá-lo a Belém de São Francisco, no Pernambuco, sua terra natal. O objetivo era tentar encontrar parentes, 70 anos após ele ter deixado o local, aos 18 anos. Tio Inácio partiu para a vida e foi trabalhando Brasil afora até chegar a Minas.
Em Monlevade, se apaixonou pela minha tia Aparecida, com quem se casou, sem nunca mais voltar à terra natal. Com o tempo, perdeu contato com a família nordestina. No entanto, ele nunca fora esquecido. Estava sempre em pauta e se tornou uma espécie de lenda familiar, viva nas memórias e causos.
Naquela viagem, eu e meu primo Ronildo, filho dele, tivemos sucesso. Tio Inácio conheceu parentes e recuperou a comunicação com seu único irmão, José. Além disso, descobriu outros sobrinhos em Timon. E foi justamente para levar a “lenda” de 92 anos até eles, que passei dias incríveis entre o Maranhão e o Piauí.
A viagem revelou gratas surpresas. Descobri que os meses de setembro, outubro, novembro e dezembro são “b-r-ó bró”. Época mais quente do ano, com calor acima dos 40°C. E se “tu não banhares, vais ficar feito cancão matado a tapa”.
Bebi cajuína que, como cantou Caetano, é mesmo “cristalina em Teresina”. Num mergulho à culinária local, apresentada pela prima Katiana, talentosíssima na cozinha, conheci delícias: arrumadinho, panelada, Maria Isabel, paçoca de carne de sol, baião de dois, bolo de sal... Isso, sem falar em disposição e amizade.
A identificação com os novos primos (quase todos com nomes iniciados em “é”, assim como eu), veio logo. Com o primo Erinaldo, conheci gentileza, afetividade e as histórias de seu pai, Antônio de Sócrates, grande empreendedor e mestre em irrigações, assim como o filho, o primo Edvan. Com a prima Maria Enilda, aprendi que mesmo com a vida atarefada pelo trabalho, é preciso fazer pausas para encontros como esses. Com o simpático casal de amigos, Weslley e Ellen (ela, filha de Erinaldo), fui a um forró em Teresina e aprendi que duas ou três Liras podem deixar um sábado “infinity”.
Concordei com meu primo Ednaldo, caminhoneiro, que “o Brasil não conhece o Brasil”. A filha dele, Edilene, me apresentou o centro histórico de “The”, o encontro dos rios Poty e Parnaíba, além da lenda do Cabeça de Cuia. Com a doce prima Edna, que já conhecia da outra viagem e que veio do Salgueiro (Pernambuco) para rever Tio Inácio, vi que família é mais importante que qualquer distância.
Por fim, com a querida prima Abjaílda, vi que hospitalidade não se diz, é algo que se faz. E que sorrir, mesmo diante das inevitáveis dores da vida, é fundamental.
Roberto Carlos nos ensina que o importante é viver as emoções. E foi com elas que essa experiência foi temperada bem à flor da pele. Os reencontros, a redescoberta do amor e a travessia das “pontes de amizade” é que conectam os sentimentos para sempre.
(*) Erivelton Braz é editor do A Notícia e fundador da Rotha Assessoria em Comunicação