Em 1972, a Rede Tupi de Televisão, através de sua afiliada em BH, a TV Itacolomy, canal 4, apresentava, bem tarde para a época, pois trazia cenas “impróprias”, a novela “Tempo de Viver”. Outros valores e distantes referências. Em determinada cena, as atrizes Adriana Prieto (Lúcia) e Vera Gimenez (Tatiana) conversavam e ouviam músicas de carnaval, cujos sons adentravam pela janela do apartamento.
Uma delas, pensativa, fala que o Carnaval é uma festa triste e, para justificar a avaliação, cita alguns dos temas mais tocados então, como “Bloco da Solidão” e “O Conde”, ambas de Evaldo Gouveia e Jair Amorim, interpretadas por Jair Rodrigues. Para corroborar, ainda, aquela percepção, pouco tempo depois fizeram grande sucesso “Noite dos Mascarados” de Chico Buarque e “Cicatrizes”, de Paulo César Pinheiro e Miltinho, ambas por MPB 4, entre inúmeras outras, tratando de desilusões amorosas.
Acredito que, apesar das dores de amor que aquelas músicas expressavam, existia sempre a busca por superação em relação às perdas. Havia a intenção de “dar a volta por cima” e não a mediocridade da vingança, alinhando por baixo o fim das relações, porque o amor não é posse, é entrega. Não se percebia interesse em qualquer ação com o propósito de rebaixar, ofender ou atacar o ex-amor. Muitas vezes, inclusive, nota-se nessas letras o incentivo para que o outro tivesse sucesso, que também superasse a dor da perda, da separação, e que fosse feliz em sua nova trajetória.
Fazendo uma analogia, às vezes, por nossa condição de PcD, somos equivocadamente estimulados a reagir de forma intrépida ou carregada de mágoa às demonstrações de desrespeito ou desamor. Não acredito que valha sempre a pena. Como dito por Juan Domingo Peron: “A força é o direito das bestas!”. E as reações destemperadas quase sempre causam dores e ferimentos, como a própria física - terceira Lei de Newton - já demonstrou: “A toda ação há sempre uma reação oposta e de igual intensidade”.
Naturalmente, o que difere, em termos de resultado menos ou mais importante, é o nível de resistência das partes envolvidas. Então, sempre que possível, o melhor é nos deixarmos afetar apenas por aquilo que é positivo, como a alegria dos carnavais, o embalo dos bons sambas, dos frevos e das deliciosas marchinhas. Assim, “Quem viver verá que não foi em vão. Eu quero é muito amor no coração”, como Simone, em 1985, cantou nesse samba cheio de positividade que, para existir, precisou da participação de muitos autores: Almir Araújo, Balinha, Marquinho Lessa, Hércules Correa e Carlinhos de Pilares.
A visão do personagem, na referida novela, de que o Carnaval é uma festa triste, depende muito do momento em que cada um vive e sob quais prismas observa o passar da vida ou o desfilar dos blocos, das escolas. Entendo ser preferível se envolver nas melodias, nos ritmos, na harmonia, nas vozes que cantam e acariciam nossas almas, entendem nossas paixões, acalmam nossas dores. E, por que não, arrancam os grilhões de nossas paralisias e jogam para o alto as crianças felizes que vivem em nós, como num pula-pula festivamente colorido. Bom Carnaval!
(*) Mário Ananias é monlevadense, servidor público, escritor, palestrante e autor do livro:
Sobre Viver com Pólio. Contato: mariosrananias.com.br/ @mariosrananias