Desde 1984
Márcio Passos
03 de Abril de 2020
É muito, mas é pouco

Sou fã e amigo distante desde a virada dos anos 60 e 70 de sua única filha, mulher diferenciada e com inteligência e cultura ímpares. E isso é muito, mas é pouco.

Um dos braços abertos que me receberam em Itabira no início dos anos 90 foi meu saudoso amigo, seu filho Edu Maluf, de tantas glórias no Valério, Cruzeiro e Atlético. E isso é muito, mas é pouco. 

A idade menor de Ronaldo e Ricardo, seus outros filhos, me impediram maior convivência, mas a admiração surgiu como herança familiar, bem como à nora/filha Elaine e demais familiares. E isso é muito, mas é pouco. Minhas lembranças de Dona Farid são da década de sessenta na inesquecível Praça do Mercado, onde ela e o marido Tatão comandavam a Casa Maluf, loja de tecidos que, depois, foi transferida para o centro de Carneirinhos, onde acredito que ainda funcionava antes do Coronavírus ali na avenida Getúlio Vargas, ao lado do Depósito Novo Horizonte. E isso é muito, mas ainda é pouco.

Sempre que ouvi qualquer referência a Dona Farid, o que me veio à cabeça é a imagem de uma mulher acima do seu tempo, feminista de convicção e não de bandeira, firme em suas posturas sem, contudo, jamais abrir mão do diálogo, do respeito e dos princípios básicos da boa convivência e vida cristã que sempre representou. E isso é muito, mas ainda é pouco.

Não será favor nenhum se a CDL e a Acimon/Mulher prestarem merecida honra à pioneira do comércio em João Monlevade, muitas décadas à frente de tanta mulher se destacando hoje em todos os setores da sociedade. E isso é muito, mas ainda é pouco.

Não escrevo este texto para agradar aos filhos e aos amigos. O faço para agradecer ao sorriso que conquistou a mim e a milhares. Se os bebês avisam que chegaram com choro, Farid chegou sorrindo. Se ao longo da vida chorou, fechou a cara e mandou gente fingida para os quintos, nem quero saber, porque a pouco convivência que tive com ela foi essa da imagem que a foto registrou. Sorrindo para a vida como, espero, tenha sorrido para a morte, sábia que era para saber que ela é inevitável. Isso pode ser pouco, mas é muito. É vida bem vivida. Em toda sua plenitude.

Só não se recordará deste sorriso quem dele não pode usufruir. Tem muito tempo, mas a última vez que a vi ela me recebeu com ele e disse meu nome e sobrenome. Namastê, Dona Farid!


(*) Márcio Passos é jornalista e fundador do A Notícia

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