Desde 1984
Eduardo Quaresma
18 de Fevereiro de 2022
Descaso com as rodovias

No último domingo (13), para complicar as rodovias na nossa região, uma carreta deu “L” em cima da Ponte Torta - local de vários acidentes e que precisa de intervenção urgente - impedindo o trânsito nas BR's 381 e 262. Ainda em virtude das chuvas, o Médio Piracicaba está quase isolado. A situação mostra a fragilidade do sistema rodoviário. 

O solo dos morros saturados com as chuvas e sem drenagem alcançam a rodovia, a água infiltra abaixo do asfalto e destrói acostamentos e pistas. Por enquanto, Abre Campo, Nova Era, Rio Casca, Belo Horizonte e São Domingos do Prata estão interditados, ou com tráfego comprometido e receberam desvios precários. 

A nova BR 381 duplicada tem problemas também, perto do trevo de acesso a Bom Jesus do Amparo, perdeu a sustentação e tem afundamento em seu pavimento com as enxurradas provocadas pelas chuvas. As vias de ligação do Médio Piracicaba continuam ameaçadas de interrupções devido a desabamentos progressivos e visíveis, sendo que alguns deles nem sequer foram sinalizados, ou ainda estão escondidos prontos para surgirem.

Motos, carros, caminhões, carretas e ônibus se esforçam para passar dividindo acostamentos, desvios e pistas com buracos, o solo se rompe e desliza ampliando progressivamente as crateras. As fortes chuvas mostram ser questão de tempo até que mais partes das rodovias caiam e sejam tragadas pela erosão, podendo até interromper mais pontos nas vias. 

Desvios e pequenas contenções de asfalto feitos pelo DNIT apenas atrasam as enxurradas que descem pela rodovia e passam por cima do obstáculo, fazendo a beira do asfalto dependurado no precipício se transformar em queda d’água. Fendas e buracos se aprofundam nas encostas, descem do talude e vão se alastrando sob a terra, já minando outras partes ainda não visíveis da estrada. Em outros, o que ameaça são os deslizamentos de encostas, mas há desabamentos de rochas que pareciam sólidas ao serem abertas na construção da estrada sofrem com as chuvas, lama e água constante minam por vários pontos carreando continuamente detritos, e que comprometem pouco a pouco as condições das rodovias. As fendas de tração que surgem nos pavimentos são pontos de entrada de água, que comprometem toda a estabilidade das rodovias. 

A falta de manutenção, que entendo ser primordial para evitar problemas futuros, ultrapassam a conservação rotineira dos contratos vigentes que se restringem a reparos localizados de defeitos na pista ou no acostamento com extensão inferior a 150 metros e manutenção regular dos dispositivos de drenagem, dos taludes laterais, da faixa lindeira, dos dispositivos de sinalização e demais instalações da rodovia. 

A grande extensão de danos das chuvas necessitaria de contratos de conservação de emergência. Um conjunto de operações destinadas a corrigir defeitos surgidos de modo repentino, ocasionando restrições ao tráfego e ou sérios riscos aos usuários. A manutenção pode impedir o surgimento de diversas patologias que podem comprometer a estabilidade do pavimento, e consequentemente tornar difícil e oneroso a recuperação e reparos.

O DNIT tem contrato de manutenção e empresas para executarem serviços corretivos e permanentes, serviços de sondagens e monitoramento dos diversos locais atingidos com profissionais com expertise em ocorrências de alta complexidade. Os especialistas monitoram a estabilização dos locais e realizam os levantamentos necessários para elaborarem a solução definitiva dos problemas que surgirem nas rodovias. Porém, essa manutenção não parece ser suficiente. 

Por que o deslizamento após o Posto Veraneio não teve o devido cuidado no período em que a BR 381 ficou totalmente interditada no Km 321 em Nova Era? É certo que as chuvas nesse período foram intensas, e ainda dificultam os serviços de reparos e recuperação, mas alguns destes problemas poderiam ser evitados? A manutenção foi adequada? E a passividade dos nossos representantes? A cobrança por soluções técnicas mais ágeis que favoreçam ou minimizem os problemas faz-se necessária. O Médio Piracicaba corredor do desenvolvimento de Minas Gerais e do Brasil pede respostas rápidas. O escoamento da produção mais representativa do PIB mineiro encontra-se comprometido. 

As duas estradas BR-262 e BR-381 serão alvo de Leilão para concessão programado para o próximo dia 25. E então, estas BRs vão também dar “L”? Até quando precisaremos lidar com essa situação? 


(*) Eduardo José Quaresma é engenheiro civil, professor universitário e inspetor chefe do Crea-MG Inspetoria de João Monlevade

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