Desde 1984
Erivelton Braz
25 de Fevereiro de 2022
Casa Monlevade de Cultura

João Monlevade merece uma casa para preservar sua memória e fomentar a arte e a cultura para projetar o futuro. Não se trata da Fundação Casa de Cultura, que faz um trabalho importante. O município precisa de algo maior, à altura do pioneirismo e da grandeza de Jean Antoine Félix de Monlevade. 

Esse espaço deveria ter ligações internacionais, com a França e com Luxemburgo, países fundamentais para a nossa constituição. O primeiro, por questões óbvias, sendo terra natal de Jean de Monlevade. É muito importante estabelecer essa conexão, para exaltar o espírito do fundador, o último desbravador europeu do século XIX que deixou um legado para todo o país: a produção do aço e a siderurgia.

Temos o Solar Monlevade, construído por Jean e onde ele morou, réplica da sua forja e resquícios de sua fábrica, uma das mais importantes do então império. Temos o cemitério histórico onde ele e a esposa (Clara Coutinho, a sobrinha do Barão de Catas Altas) repousam, mas falta mais para valorizarmos e compreendermos essa memória.

Com os luxemburgueses, dá-se o outro elo de nossa história. Sem eles, a Usina de Monlevade não existiria. Sem eles, o então distrito de Rio Piracicaba não prosperaria. Foi com a visão de Gaston Barbanson, então presidente da Arbed, que tudo começou. Ele comprou as “terras do velho Monlevade” e a Mina do Andrade, para implantar a Usina. Anos depois, Louis Ensch aqui chegou e edificou a cidade: o Hospital Margarida, as Vilas Operárias e Vila dos Engenheiros, com projeto de Lúcio Costa (antes de projetar Brasília).  

Se não tivermos uma Casa Monlevade de Cultura para arquivar essas histórias, a cidade vai se perder e as referências vão sumir com o tempo. O projeto consiste na criação de um espaço com acervo documental e audiovisual que integram a memória de João Monlevade. O local, aberto ao público, ainda deve ser dedicado ao fomento e à formação cultural, com exposições de artes, oficinas, debates e reflexões sob curadoria de especialistas. Para tanto, seria fundamental parceria com empresas, universidades e instituições nacionais e internacionais, além dos poderes públicos. 

O primeiro passo já foi dado com a exposição Brasil-Luxemburgo, que chega a João Monlevade no dia 9 de março e permanece até outubro. A cidade recebe exposição de fotografias históricas, de pintura, além de um quiosque intitulado [L]AÇO que abrigará uma exposição transmídia. Além disso, haverá a exibição do documentário “A Colônia Luxemburguesa”, filme dirigido pela historiadora Dominique Santana, que resgata a história da migração luxemburguesa para o Brasil, passando por João Monlevade. Esse é o caminho. Monlevade, esta terra grandiosa, merece, carece e deve recuperar o seu protagonismo no cenário internacional.  


(*) Erivelton Braz é editor do A Notícia e fundador da Rotha Assessoria em Comunicação

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