Desde 1984
Thiago Silva
03 de Junho de 2022
Por uma universidade para todos

Saí de Ipatinga em 2001 para viver o sonho de cursar engenharia em uma universidade pública. Fazia parte de um pequeno grupo de estudantes de classe média baixa vindos do interior do estado. A universidade era para poucos e os estudantes se gabavam de quão difícil era estar ali. 

O que inicialmente me afagava o ego, passou a me incomodar à medida em que percebi que estar ali tinha mais a ver com as circunstâncias da minha vida pregressa do que com o esforço individual, do que com o mérito próprio. Se a universidade foi transformadora em minha vida, por que era para poucos?

Felizmente, nos últimos 20 anos, muita coisa mudou. O processo de expansão e interiorização da universidade pública atendeu milhares de pessoas que não teriam acesso à formação superior. A Ufop esteve na vanguarda deste processo ao chegar em João Monlevade em 2002. Nossa instituição foi pioneira também na aplicação da política de cotas em seus processos seletivos a partir de 2008. Nacionalmente, a medida foi regulamentada apenas em 2012. 

A universidade finalmente passara a ser acessível ao povo brasileiro. Para se ter uma ideia, desde sua chegada no município, o Icea/Ufop formou 1126 profissionais, dos quais 328 são de João Monlevade. Foram diplomados 333 alunos que ingressaram através de cotas, 129 monlevadenses.

 Ao que tudo indica, entretanto, após a expansão, o país passou a entender que a universidade não era mais importante e essa deixou de ser vista como investimento para virar gasto. Desde 2016 as Instituições Federais de Ensino Superior (IFES) vivem um contexto de grave crise orçamentária. Em 2020, a pandemia explodiu em um momento em que não sabíamos se haveria recurso para continuar funcionando até o final do ano. Se não fosse a forçada migração para o trabalho remoto, não haveria verba para concluir o ano letivo. 

Cabe lembrar a importante atuação das IFES no combate à pandemia e que, em nenhum momento, as universidades deixaram de prestar serviço à população. Voltamos às atividades presenciais, após dois anos, sem os recursos necessários para investimento ou manutenção e com um orçamento previsto ainda menor que o de 2020. Previsto. Porque no início da semana recebemos a notícia de um corte de 14,5% no orçamento em meio a ameaças à gratuidade do ensino. A situação é desesperadora. As condições de trabalho estão severamente comprometidas.

Quem perde com isso? Você! É o seu futuro e o futuro de seus filhos que está em jogo. E não é apenas pelo ensino. Não há país no mundo que tenha se desenvolvido sem investimento massivo em educação, ciência e tecnologia. A presença da universidade no município movimenta o comércio e o setor de serviços com a injeção de milhões de reais na economia. A Ufop em Monlevade atua diretamente junto à sociedade civil por meio de 33 ações de extensão que estão sendo executadas só esse ano. A qualificação da mão de obra gera mais produtividade e competitividade para os empreendimentos locais. O fortalecimento da universidade é crucial para um futuro melhor para todos nós. Defender a universidade pública, gratuita, de qualidade, plural e para todos é um dever enquanto cidadão.  


(*) Thiago Silva é doutor em Engenharia de Produção, servidor público federal e atualmente diretor do Instituto de Ciências Exatas e Aplicadas da Ufop

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