Atualmente, somos bombardeados por um número exorbitante de informações vindas dos mais variados meios, sendo as redes sociais uma das fontes mais populares para a divulgação de notícias. O problema é que o excesso prejudica o filtro.
É assim que surge a desinformação, ou a Fake News, como é mais popularmente conhecida. Ela ocorre quando pessoas manipulam outras, em grandes escalas, com informações intencionalmente falsas, mediante fatos inverídicos, distorcendo fatos reais ou mesmo manipulando dados, com o intuito de disseminar mentiras em prol de seus próprios interesses.
Um povo com pouca leitura e, por consequência, pouco senso crítico, intensifica o fenômeno, facilitando a manipulação da opinião pública, mediante divulgação massiva de boatos ou distorções de fatos reais.
O boato, a fofoca, a intriga sempre fizeram parte da vida em sociedade. Porém, ganharam uma dimensão nunca vista antes, mediante o impulso proporcionado pela era digital. Em questão de minutos, uma falsa notícia alcança números de visualizações jamais vistos. E o estrago é de difícil reparação porque, ainda que se comprove a falsidade da informação e se obrigue divulgar a retratação, não é possível atingir o mesmo número de visualizações de antes. Afinal, a notícia sensacionalista é muito mais lida que a informativa.
Muitas vezes, a notícia pode até ser verídica, mas o título induz o leitor ao erro. Pesquisa realizada no Estados Unidos em 2015 concluiu que apenas 20% dos leitores clicam na notícia para ler seu conteúdo na íntegra. Na era digital, as redes sociais são fontes perfeitas para potencializar a divulgação do conteúdo inverídico porque segmentam seus usuários em nichos específicos, direcionando a mensagem aos que têm mais chance de dar credibilidade a ela. Mediante impulsionamento, custeado pelo divulgador de má-fé, a mensagem chega aos leitores que previamente já estão “catalogados” como favoráveis àquela opinião. E pior, esses tendem a compartilhá-la com outros que possuem opinião semelhante. É a máxima de que os iguais sempre se aproximam.
As pessoas tornam-se cada vez mais vulneráveis à manipulação de ideias, quando ignoram a realidade dos fatos em favor da desinformação, que condiz com suas crenças e convicções. Tendem acreditar piamente na notícia sem sequer checar se é verdade ou não. E é nesse escuso interesse de convencer, que os maus políticos manipulam opiniões favoráveis a si e, outras vezes, desrespeitosas a outros. Contratam agências especializadas para a propagação em massa e espalhar, nas redes sociais, mentiras convenientes à própria candidatura. Utilizam robôs e perfis falsos para impulsionar mentiras com curtidas falsas.
O fenômeno da desinformação é mundial e se acentua em períodos eleitorais. Por isso, é preciso conscientizar a população sobre o seu perigo no processo eleitoral. Um candidato capaz de se eleger, por ter feito uma campanha eleitoral pautada na enganação, pouco escrúpulo terá para governar. Campanha política se faz com a apresentação de propostas, projetos, novas ideias, planos de ação. Não com disparo em massa de mentiras.
É preciso ter cuidado com o que se lê e saber filtrar o fato do boato. Para isso, os sites oficiais da Justiça Eleitoral possuem canal próprio de checagem de informações. Pesquise mais sobre a informação que receber. Verifique a fonte da notícia. Fonte segura provém de um canal confiável, comprometido e responsável com o que divulga. Vá além do título e leia todo o texto da informação. Desconfie de títulos sensacionalistas. E, por fim, leia o conteúdo com imparcialidade, sem permitir que opiniões prévias afetem seu senso crítico.
Nunca foi tão importante para o povo brasileiro saber ler com criticidade e apurar a verdade. Antes mesmo da era digital, já dizia o saudoso Renato Russo que “quando a esperança está dispersa, só a verdade me (nos) liberta, chega de maldade e ilusão”.
(*) Hortência Carvalho é chefe do Cartório Eleitoral. Instagram: @hortenciacarvalho2009